Vetar vacina é crime contra saúde pública
Coronavírus CTB Geral 22/10/2020
A decisão do presidente Jair Bolsonaro de desautorizar o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre o acordo com o estado de São Paulo para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac que será produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantã, é mais um capítulo da sua já extensa história de descaso com o povo diante da Covid-19. Com argumentos típicos da extrema direita para hostilizar o governo da China, ele simplesmente ignora a vida e a saúde dos brasileiros(as).
É pura mentira e requinte de cinismo o argumento do presidente de que o veto à Coronavac seria para impedir que o povo brasileiro seja usado como cobaia. Qualquer vacina – chinesa, inglesa, estadunidense, não importa – somente será aplicada se a Anvisa aprovar como segura e eficaz.
O episódio pode também ser contabilizado como mais uma ação bolsonarista para a campanha pela reeleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Como bem disse a deputada federal Perpétua Almeida (AC), líder da bancada do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Câmara dos Deputados, é inaceitável o envolvimento dessa questão importante em nas crenças ideológicas do presidente.
Segundo a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, é inadmissível o grau de subserviência de Bolsonaro aos interesses de Trump. “A declaração de que o governo brasileiro não comprará a vacina chinesa contra a Covid-19 é mais uma demonstração de que temos um presidente genocida”, afirmou. Para ela, o presidente descumpre direitos fundamentais previstos na Constituição quando faz declarações desautorizando o seu ministro da Saúde.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também foi preciso ao dizer que o presidente está criando “uma guerra da vacina”. “Os governadores com certeza vão ao Congresso Nacional e à Justiça para garantir o acesso da população a todas as vacinas que forem eficazes e seguras”, afirmou.
Na mesma linha, partidos de oposição (PCdoB, PT, PDT, PSOL. PSB, Cidadania, Rede e PV) se posicionaram, em nota, afirmando que, em conjunto com outras forças democráticas do Congresso Nacional, atuarão “para evitar ação nociva do presidente da República à saúde pública e exigir que responda nos termos da lei e da Constituição a mais esse crime contra o Brasil”.
Com essa atitude, Bolsonaro revela até onde vai a sua ideologia movida pelo obscurantismo, calcada no autoritarismo. É preciso lembrar que essa mesma atitude resultou no embate travado no âmbito do Congresso Nacional, impulsionado por movimentos populares – em especial o movimento sindical – e partidos de esquerda, nos casos dos auxílios aos que ficaram sem fontes de renda, aos estados e municípios e às micro, pequenas e medias empresas.
A recorrência a esses métodos indica que seu viés autoritário e de vassalagem ao seu amo norte-americano não pode ser tratado como manifestações esporádicas. São atitudes que estão no âmago do seu projeto de poder, não sem motivo inspirados, segundo o próprio Bolsonaro, nos métodos da ditadura militar. As realidades são distintas, mas, ao ideologizar e politizar pela extrema direita um assunto de tamanha relevância, ele revela o grau de exacerbação a que sua ideologia pode chegar no caminho do autoritarismo. Pela sua dimensão continental e população numerosa, o Brasil precisa de uma cesta de vacinas seguras e eficazes, independentemente de suas origens, para imunizar o povo com segurança e maior rapidez possível.
Temas como esse devem ser tratados como de interesse coletivo. Não cabe ao presidente da República agir de forma autocrática, apenas por interesses de terceiros, no caso a administração de Donald Trump. Além disso, trata-se de uma afronta à soberania nacional e à vontade popular. Num momento em que o mundo da ciência e da pesquisa se mobiliza para a busca de uma solução para a ainda incontrolada pandemia, essa atitude afronta também direitos humanos elementares.
Via: Portal Vermelho