Os trabalhadores do comércio estão entre os mais afetados pela pandemia do coronavírus. Entre janeiro e maio, foram fechados 446 mil postos de trabalho formais no setor. E boa parte dos que não foram demitidos também sofre os impactos: cerca de 2,5 milhões tiveram contratos suspensos ou jornada e salário reduzidos, conforme autorizado pela MP 936.
Para agravar a situação, quase 1/3 dos trabalhadores do setor são informais e, com a crise do coronavírus, perderam a renda. Se o governo não implementar novas medidas para fazer com que o crédito chegue às micro e pequenas empresas, milhares de negócios do setor desaparecerão, deixando outros milhões de trabalhadores sem trabalho e renda.
A economia brasileira vem enfrentando recessão e pífio crescimento desde o último quadrimestre de 2014. O Produto Interno Bruto (PIB) encolheu cerca de 7% nos anos 2015 e 2016 e cresceu perto de 1% em 2017, 2018 e 2019. Este último ano, primeiro do atual governo, começou com projeção de expansão da economia próxima dos 3%; mas,
à medida que o calendário avançava, o crescimento estimado pelo ministro da economia era reduzido e o PIB efetivo fechou em apenas 1,1%.
Em 2020, apesar de mais uma vez o governo começar o ano fazendo projeções otimistas para o crescimento do PIB, na casa dos 2,5%, a divulgação da queda de 1,5% no PIB no 1º trimestre evidenciou que o desempenho da economia já vinha aquém do esperado antes dos efeitos provocados pelo novo coronavírus 1. (Como a pandemia da Covid-19 foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, o estado de calamidade pública foi decretado no país em 20 de março de 2020 e as decretações de quarentena nos estados e municípios datam da segunda quinzena de março, é certo que os impactos da crise sanitária na economia só foram sentidos integralmente a partir do mês de abril e, portanto, serão observados no PIB do 2º trimestre e dos períodos seguintes.) No 1º trimestre de 2020, o consumo das famílias caiu 2% ante o 4º trimestre de 2019 e o PIB do comércio registrou retração de 0,8%, também em relação ao trimestre anterior.
A pandemia encontrou uma economia enfraquecida devido à baixa taxa de investimento, elevada ociosidade, precarização do mercado de trabalho e crescimento das desigualdades sociais, em razão das políticas neoliberais implementadas desde 2016 e aprofundadas no atual governo. A situação de variáveis que influenciam o consumo –
emprego, renda, crédito, juros e confiança – já apresentava debilidade nos primeiros meses do ano e se agravou profundamente com a pandemia.
A este cenário, por si só adverso, soma-se a forma desastrosa com que o presidente da República vem tratando a crise sanitária, a falta de coordenação por parte do governo federal e a insuficiência das políticas públicas para proteger a vida, preservar os empregos e a renda e apoiar as empresas, diante da calamidade decorrente da pandemia.
Para recuperar o consumo é necessário não só promover políticas de emprego e renda para as famílias, mas também garantir que as pessoas se sintam seguras e confiantes. É preciso ter um plano de gestão da pandemia, construído por meio de amplo diálogo social, que proteja as vidas e a economia, que diminua as incertezas e aponte
soluções confiáveis e saídas seguras enquanto a vacina não chega.
Apesar de ainda não ser possível dimensionar os principais impactos desta crise, sobretudo em função das incertezas quanto ao próprio tempo de duração da pandemia e também da disponibilidade de dados, é certo que se trata de uma das maiores, senão a maior, crise econômica da história mundial. Estimativa do DIEESE, publicada já em março de 2020², apontava que o PIB brasileiro em 2020 poderia sofrer uma queda de 8,5%, adicionando milhões de pessoas ao total de desempregados, subocupados e desalentados.
Nesse contexto, este número da série Estudos e Pesquisas (EP) busca analisar a partir de um conjunto de indicadores o setor do comércio e das condições de trabalho da categoria comerciária e, assim, subsidiar as ações do Fórum dos Trabalhadores do Comércio criado pelas Centrais Sindicais – CUT, UGT, FS, CTB, NCST e CSB – em maio de
2020, visando a construção de uma agenda unitária e o desenvolvimento de ações articuladas no enfrentamento da crise do coronavírus, na defesa da vida, dos empregos, dos direitos e da democracia.
A edição 94, de 7 de julho 2020, da série Estudos e Pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE divulga esses dados do setor do comércio e a COVID -19,
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