' Foi um mandato de muitas lutas e transformações', avalia Aurino
Nesta sexta-feira, 9 de junho, começa o 4º Congresso Estadual da CTB Bahia, que marca também o encerramento do mandato da atual gestão da Central, que tem o metalúrgico Aurino Pedreira como presidente.
Nesta entrevista, ele fala um pouco deste período e faz um balanço sobre os avanços da CTB Bahia, nestes quatro anos de muitas atividades de rua e de uma luta constante pelos direitos do povo brasileiro.
Quais os projetos da CTB Bahia quando você assumiu a presidência em junho de 2013?
Aurino: No período da mudança de mandato do companheiro Adilson para o meu mandato na direção, a ideia era consolidar o crescimento da CTB no estado, pois ela já tinha se transformado na principal central sindical da Bahia. A ideia principal era consolidar e crescer. Exatamente dentro desse processo do DNA da CTB, no seu nascedouro, ampliar o debate com o conjunto das centrais sindicais, fortalecer, do ponto de vista de sua consolidação política enquanto uma grande marca do movimento sindical baiano e crescer, naturalmente e expandir o seu raio de influência e seu processo de filiação de outros sindicatos. Esse foi o projeto inicial, dar continuidade e ao mesmo tempo fortalecimento, essa era a ideia que a gente imaginava, que nos limitaríamos a ação naturalmente política do cotidiano no dia a dia, no acompanhamento dos sindicatos, nas suas greves, nas suas atividades, nas suas relações institucionais. Esse era o desenho que se tinha naquele momento de 2013.
Quais as bandeiras defendidas naquele momento?
Aurino: Era um momento de acessão do processo de conquista de direitos na sociedade. A gente vinha trabalhando com a luta pela redução da jornada de trabalho, as Convenções da OIT que agregam direitos, como o fim da demissão imotivada, e um o conjunto de direitos que a gente vinha trabalhando já a algum tempo com manifestações em Brasília. A ideia era exatamente fazer uma discussão cada vez mais ampla, mais forte sobre o governo que estava instalado, que era o governo Dilma, para que a gente caminhasse neste sentido e o próximo governo que viesse, dentro desse campo progressista pudesse fortalecer essas nossas lutas. Essa era a nossa pauta, o nosso objetivo naquele momento. A nossa grande bandeira, era mais direitos.
Quando a situação mudou?
Aurino: Quando a gente assumiu o mandato aqui na CTB. O período coincide com as manifestações de junho de 2013 em todo o Brasil, que se deu a partir das lutas dos estudantes por causa aumento a passagem do transporte público em São Paulo, que gerou aquelas agressões da força policial contra o movimento estudantil e gerou um amplo processo de manifestação no Brasil. Na realidade, aquelas manifestações que até hoje precisam ser melhor compreendidas, a partir dali foi que se instalou um processo de enfrentamento de projeto político que estava instalado no país, mas a massa da população que foi às ruas, pelo menos a grande maioria, foi na perspectiva de precisamos de mais Estado, mais saúde. Então era educação modelo Fifa, saúde modelo Fita, segurança de qualidade. Então, esse foi o momento. Quando a gente entra, pega aquele movimento que não saiu dos movimentos sociais organizados, e nós estamos mais habituados a eles construírem essas lutas, mas foi um momento de um processo de indefinição, porque ele começou a avalizar um processo de disputa muito grande, e a levantar um questionamento em relação a muitas políticas que vinha sendo desenvolvida. Foi quando a gente passa a perceber que algo estranho vinha acontecendo.
Como a CTB se reorganizou nesse novo cenário?
Aurino: Esse movimento de 2013 questionava, inclusive, a presença das centrais sindicais no movimento. Então, a gente começa o mandato onde as nossas organizações são questionadas por movimentos de rua, movimentos de massa. Então, a gente usou um movimento tático de não deixar de participar e de estarmos inseridos ali, exatamente para ajudar e dá uma orientação política melhor. Tanto que, se olharmos aqui na Bahia, em relação a outros estados, o enfrentamento ao projeto foi de uma intensidade muito menor. Nós conseguimos articular com os movimentos sociais e influenciar, reconhecendo que de fato precisaríamos de mais Estado, precisaríamos cada vez mais melhorar a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado, mas ali não era uma luta contra o Estado. Na Bahia, a gente conseguiu nos engajarmos criando uma resistência. Claro que não de uma forma habitual. As nossas bandeiras, as de outras centrais e dos partidos foram muito questionadas naquele período. Então fomos obrigados a tomar uma posição muito tática para poder está dando uma consequência ao movimento. Um movimento que a nível nacional estava se perdendo, no ponto de vista das ações concretas e tinha problema do ponto de vista do seu conteúdo político. Brigar para avançar é uma luta nossa, mas não poderíamos nunca, favorecer aqueles que ao longo da nossa história lutaram para retirar nossos direitos. Então, essa é a contradição que aquelas manifestações de 2013 começaram a sinalizar.
Como foi a construção desta influência da CTB junto aos movimentos sociais? Foi a partir da criação da Frente Brasil Popular?
Aurino: A CTB sempre teve um diálogo muito aberto com os movimentos sociais. A verdade é que nos momentos das manifestações mais gerais, e em 2013 aconteceu muito isso, esse diálogo se amplia. Mesmo antes da Frente Brasil Popular a gente já trabalhava para isso. Mas, a partir daí a nossa atuação se amplia junto a movimentos outros que não eram necessariamente do movimento sindical. A Frente Brasil Popular é um ponto de consolidação disso. É uma Frente que busca enfrentar os problemas que o país vem enfrentando, porque nós tivemos as manifestações de 2013, a eleição radicalizada de 2014, em seguida temos o processo do impeachment, de tentativa derrubada do governo, depois temos o golpe, e, até hoje estamos na luta contra esse golpe, contra a tentativa de retirada de nossos direitos através das contra reformas propostas por esse governo e na luta por diretas já. Então é uma consequência enorme que a CTB protagoniza em cima disso, ela passa a ser uma central de rua. Podemos dizer que o mandato da CTB foi um mandato de organizar a resistência, organizar as mobilizações, estar nas ruas e com isso impulsionar os sindicatos a alertar a classe trabalhadora para os riscos que estavam para acontecer e que acabaram acontecendo. Então, foi um mandato muito ativo, no sentido de fazer o enfrentamento. Aquilo que se originou com o sentido de crescer, trazer mais sindicatos, lutar para avançar nos nossos direitos, passou a ser a busca para manter um projeto, a luta para manter os direitos e de resistência. Então, passou a ser muito um movimento de massa e de rua. A CTB passou a ajudar na coordenação desse conjunto de movimentos. Eu diria que, a constituição da Frente Brasil Popular aqui na Bahia, se deu a partir da CTB, logicamente, em conjunto com outras forças políticas. Mas não podemos negar o papel que a CTB teve nessa construção. Além disso, a CTB Bahia participou da construção da Frente Brasil Popular a nível nacional. Nós estivemos no ato de construção da Frente, em Minas Gerais, e trouxemos esse debate aqui para o estado junto com outros seguimentos. Durante todo esse tempo, a CTB faz parte do núcleo duro, da coordenação da Frente aqui na Bahia. Então, tivemos um mandato de intensa luta política, com várias ações, mas sempre tendo como foco principal a luta da classe trabalhadora no nosso país.
Como a CTB dosou esta atuação de rua com o trabalho de interiorização e ampliação do número de sindicatos filiados?
Aurino: O protagonismo da CTB nas lutas gerais aumentou a nossa visibilidade. Com o tempo, a CTB passou a ser vista como uma central consequente e de luta. Isso contribuiu para que pudéssemos ampliar a comunicação com os sindicatos. isso nos impulsionou inclusive a querer estender essa CTB de resistência e de lutas de massas para todo estado, não só para capital. Então, os sindicatos classistas abraçaram muito bem nosso plano de lutas e desenvolveram isso nas principais cidades do nosso estado. Podemos dizer, sem dúvida alguma, quem mais desenvolveu ações no interior do estado nesse processo de luta intensa foram os sindicatos classistas filiados a CTB. Isso ajudou muito a CTB a crescer, além de provocar um processo de interiorização maior. Tanto é que a gente está encerrando o mandato com a constituição das coordenações regionais, com eleição de novas direções. Na verdade, a luta favoreceu o caráter organizativo da central, a gente soube ajustar, casar isso e a luta geral. Com isso, muitos sindicatos se identificaram com a nossa luta e se filiaram à CTB.
Como foi a atuação das secretarias e coletivos?
Aurino: No caráter organizativo, a gente começa o mandato na perspectiva de que todas as secretarias constituíssem os seus coletivos. A ideia era ampliar a direção da CTB na prática, a partir desses coletivos, com o objetivo de não só ampliar o debate de cada política da secretaria, mas ao mesmo tempo fazer com que a CTB estivesse mais presente dentro dos sindicatos. Entraria um dirigente de cada sindicato para fazer essa discussão da Central e levar o debate para dentro do sindicato. Esse foi o objetivo inicial. Lógico que nós não conseguimos consolidar todos os coletivos, todas as pastas, mas demos passos importantes na comunicação, por exemplo, que passou a ter outra desenvoltura. Conseguimos ampliar o nosso diálogo e estabelecemos essas ações com os setores de comunicação dos principais sindicatos classistas.
Na Formação, a gente consolida uma equipe de formadores para que desenvolva um processo de formação sindical para movimento baiano. Isso também foi um grande movimento feito pela CTB, em parceria com o CES. isso é muito importante. O Coletivo de Formação tem tido um protagonismo na formação sindical aqui no estado muito bom. Mantivemos também a atuação destacada do Coletivo de Saúde, que continua firme e forte nas suas atividades.Além disso, tem dois setores da nossa luta permanente que tiveram trabalhos muito fortes, que foram as secretarias de Mulheres e de Combate ao Racismo. Aliás, a central é dos trabalhadores e trabalhadoras, então não poderíamos deixar que a Secretaria da Mulher não jogasse papel importante na construção política nesse debate.
Qual a avaliação que você faz do mandato?
Aurino: Eu vejo a CTB como uma grande escola. Apesar de já estar no movimento sindical a um bom tempo, a gente aprende mais a cada dia. Comandar uma central sindical do porte da CTB Bahia, que é a maior seção estadual da CTB, foi um desafio. Como diz um colega, quanto mais você cresce os problemas crescem juntos também. Eu vejo como um mandato positivo, porque trouxe uma relação mais umbilical com o conjunto dos atores sociais, seja dos movimentos populares, quanto de todos os seguimentos da sociedade. A luta política exigiu isso e, por sermos uma central nova, eu posso dizer que fomos testados na luta permanente, porque nos enfrentamos a maior crise econômica que o país viveu. Eu acho que o processo de protagonismo de luta que a CTB ajudou a construir foi fundamental para isso. A gente não pode deixar de olhar o seguinte: quando nós fomos chamados, a CTB respondeu. Isso que é importante.
A gente viveu o mandato no momento em que o mundo e o Brasil passam por uma grande transformação social. Acredito que CTB tem um posicionamento político muito correto neste sentido, apontando exatamente os problemas que estão se apresentando e os problemas que vão se apresentar. Então, eu acho que isso é importante até para que você se organize para enfrentar os novos desafios.
A gente deixa como central um ambiente político mais consolidado, nas relações com as centrais, com os movimentos e outras entidades da sociedade. As relações com os sindicatos também estão mais consolidadas. Estruturalmente também melhoramos. Colocamos para funcionar este patrimônio, adquirido pelo companheiro Adilson na gestão anterior. Com sede própria, passamos ter melhores condições para desenvolver melhor os nossos planos de luta. claro que tem muita coisa que está precisando melhorar. As secretarias estão melhores através de seus coletivos, uma estrutura física melhor para que as pessoas possam desenvolver melhor suas tarefas, ter a sua referência sindical e um diálogo maior e amplo com o conjunto da sociedade. Claro que isso é um processo de construção, vem de outros mandatos e a gente consegue que com isso tenha continuidade, principalmente dentro da CTB, já que vai ser necessário para esse próximo período da conjuntura política.