Presidente da CTB Bahia fala da importância da união da classe trabalhadora

Geral CTB Geral 01/05/2014

Nesta entrevista, o presidente da CTB Bahia, Aurino Pedreira, fala da importância da mobilização de toda a sociedade para avançar na conquista de direitos, principalmente em relação à redução da jornada de trabalho, que é uma das principais pautas da classe trabalhadora no Brasil. O dirigente aborda também a comemoração do 1º de Maio e realização da Copa do Mundo de futebol.

 

CTB Bahia - Este é um ano diferente, pois além das eleições gerais teremos a realização da Copa do Mundo de Futebol no país. Como isso repercute na luta dos trabalhadores? O ano legislativo mais curto atrasa o debate de projetos importantes para os trabalhadores no Congresso Nacional?

Aurino Pedreira - De fato nós precisamos rediscutir esta agenda eleitoral do nosso país. Nós temos eleição a cada dois anos e no período eleitoral, há, em certa medida, um processo de estagnação no parlamento de nosso país.  Isto é um problema. Mas, o fato de debatermos o processo de eleições, cria a oportunidade de discutirmos inclusive a necessidade de uma reforma política em nosso país. Uma reforma que não permita que as candidaturas e os parlamentares eleitos sejam financiados pelo capital privado. Hoje, são as grandes empresas que bancam a maior parte dos parlamentares eleitos e alguns governos também. Isso mostra a serviço de quem eles estão. Temos que incluir neste debate a reforma política. Mas, isso só vai acontecer, se você tiver um parlamento com ideias mais avançadas.  Então, eu acho que precisamos entrar na campanha eleitoral para eleger um grande número de deputados comprometidos com as lutas dos trabalhadores. Só assim, poderemos traduzir isso em mudanças mais profundas, inclusive esta mudança de calendário eleitoral.

 

CTB Bahia - Tem muita gente protestando contra os gastos feitos pelo governo para a realização da Copa do Mundo da Fifa, mas a CTB defende o evento. Que avaliação a Central faz da realização da Copa no Brasil? Os empregos e a renda gerados valeram os investimentos feitos?

Aurino Pedreira - De fato, gerou-se uma grande expectativa em relação à Copa do Mundo. Como se a Copa fosse a solução de todos os nossos problemas. Mas não é. A Copa é um evento esportivo. A Copa é uma oportunidade de antecipar para um curto período de tempo, os investimentos que seriam feitos em longo prazo. Isto é bom para o país, do ponto de vista dos investimentos que foram feitos em mobilidade urbana e nos aeroportos, por exemplo. Eu acho também que o nível de empregos gerado não teria se concretizado se não tivesse a Copa. O número de turistas que virão ao país, inclusive gastar no Brasil, muitos não viriam se não fosse a Copa. A Copa é vista como fator de atração pelos grandes países do mundo. Se os grandes países querem, por que o Brasil não quer? Qual o problema disso?

Os gastos feitos para o evento na verdade são investimentos. Há uma desinformação em relação aos investimentos e gastos realizados pelo governo, assim como há uma certa confusão em relação ao que a CTB defende. Nós queremos Copa, saúde e educação. Achamos que os serviços de educação e saúde estão aquém do que o Brasil pode oferecer ao seu povo. Precisamos fazer o debate da questão. Se foram gastos R$ 8 bilhões na construção dos estádios, por exemplo, se nós aprovarmos o projeto de lei de taxação sobre as grandes fortunas, que está no Congresso Nacional, isso daria cerca de 16 bilhões para a saúde. Este é um debate que não foi feito. A Copa é importante sim. Nós precisamos levantar a autoestima do nosso povo em relação à Copa e também cobrar permanentemente dos governos às melhorias necessárias.

 

CTB Bahia - A redução da jornada de trabalho é a principal bandeira do movimento sindical e já está na pauta há alguns anos. Como andam as discussões sobre este tema no Congresso Nacional? Quais são as chances de aprovação do projeto que trata do tema?

Aurino Pedreira - Nós temos muitas dificuldades de avançar no tema em virtude da composição atual do Congresso Nacional. Para se ter uma ideia, a Comissão do Trabalho é composta por empresários ou por parlamentares que foram financiados por empresários. Então, eles não querem que o debate avance. Até mesmo, porque a redução da jornada de trabalho tem na essência a contradição capital e trabalho. Os patrões querem pagar pouco para que se trabalhe muito e os trabalhadores querem trabalhar menos e ganhar mais. Essa é uma luta permanente.

Eu acredito que só vamos avançar se conseguirmos fazer uma grande mobilização da sociedade, com a união das centrais para fazer uma pressão forte. O processo eleitoral é um momento oportuno. Porque, acho que nenhum candidato em sã consciência vai se posicionar contra a redução da jornada de trabalho. A CTB gostaria que esta discussão se acirrasse agora. Gostaríamos de fazer a discussão com as centrais sindicais e com os outros movimentos sociais, para fazermos uma grande manifestação sobre o tema.

Agora, no cenário do Congresso, eu acho difícil este tema seja tocado agora, se não tiver muita pressão.  Basta lembrar, que a bancada dos empresários é quatro vezes maior do que a dos trabalhadores. É preciso que o eleitor, a sociedade perceba que todos os parlamentares são representantes de algum segmento da sociedade, seja da área do campo, da grande empresa ou dos trabalhadores.

 

CTB Bahia - Nos últimos anos, o 1º de Maio tem sido mais um dia de protesto do que de festa, embora seja o Dia do Trabalhador. Este ano será diferente? Ou ainda não temos o que comemorar?

Aurino Pedreira - O que comemorar há, em virtude da luta que os trabalhadores travam. As dificuldades ainda são muitas e nós não vivemos em um sistema que efetivamente faz avançar nestas dificuldades. Nós vivemos em um cenário de crise mundial e esta crise afeta todo o país. Então, a gente entende comemorar, não exatamente como uma festa, mas comemorar no ponto de vista de homenagear aqueles que perderam suas vidas nas lutas e de valorizar as conquistas que as trabalhadoras vêm tendo ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, é um momento da gente procurar cada vez mais resgatar a necessidade de avançarmos, de estabelecer novos horizontes que precisam ser alcançados. Lógico, que ao mesmo tempo a gente vai poder oferecer ao trabalhador um pouco desta integração social maior entre todas as categorias. Mas, o 1º de Maio é acima de tudo um momento de muita reflexão.

 

CTB Bahia - Desde a sua fundação, a CTB é a principal articuladora da união das centrais em torno de pautas prioritárias da classe trabalhadora. Como andam estas discussões e como esta união tem repercutido para a garantia de direitos dos trabalhadores?

Aurino Pedreira - Nenhuma central isolada vai conseguir apontar as grandes mudanças que os trabalhadores e o nosso país precisam. Isoladamente nós podemos ter uma conquista econômica por categoria isolada, mas, para as grandes conquistas e transformações da sociedade nós precisamos unir os trabalhadores, a juventude, o homem do centro urbano, o homem do campo, ou seja, nós precisamos unir a sociedade.

A CTB nasce com este DNA de unificar as lutas, de debater efetivamente as grandes bandeiras que unificam o conjunto da sociedade. A unidade das centrais sindicais é parte disso. Acreditamos que só vamos conseguir avançar nas mudanças, só vamos conseguir sensibilizar a população se tivermos propostas consequentes e ao mesmo tempo uma unidade de ação. No 1º de maio deste ano, a gente conseguiu trazer, além da CTB, a CUT, a Nova Central e a UGT. Para nós isso é uma vitória, pois nós vamos está caminhando com bandeiras unificadas, com discursos unificados. Quem sabe sairemos aí com movimentos unificados para podermos avançar nos direitos sociais da população.

Além disso, a união das centrais tem ajudado também a avançar na defesa dos direitos da classe trabalhadora. Temos que ter um olhar para o Congresso não apenas naquilo que pode avançar, mas também naquilo que pode retroagir, retroceder.  E hoje, com este perfil de Congresso que está lá, se a gente fechar os olhos, muitas medidas podem significar a retirada de direitos. Temos o exemplo da PL 4330, que trata da terceirização. Se não fosse esta unidade de ação dos movimentos e das centrais sindicais, seguramente a gente poderia está apostando em uma medida, que precarizaria muito as relações de trabalho, que criaria muitas dificuldades em relação à tratativa das centrais sindicais, porque iria tirar efetivamente o direito dos sindicatos representar os trabalhadores. Este é só um exemplo, tem ainda o debate da política macroeconômica e uma série de outras questões importantes que estamos debatendo.