Retorno às aulas após pandemia traz apreensão aos trabalhadores e trabalhadoras em educação
A pandemia de Covid-19 está presente no imaginário da população mundial e para muitos trabalhadores e trabalhadoras, o ano de 2023 marca um efetivo retorno a condições próximas daquelas com as quais viviam antes do surgimento da doença. A volta ao ambiente físico de trabalho, porém, não elimina sequelas mentais e físicas para profissões como a de professor e professora e muitos prefeitos e governadores precisam ter maior responsabilidade ao lidar com essa questão.
Em 2021, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lançou o estudo “Novas formas de trabalhar, novos modos de adoecer” a partir de uma pesquisa realizada com 714 profissionais da educação. O conteúdo realizado no auge da pandemia aponta que a falta de profissionais, o contínuo processo de deslegitimação da autoridade apoiado em ataques da extrema-direita como o projeto Escola sem Partido e a perda da autonomia com a transformação dos educadores e educadoras em tarefeiros têm adoecido toda a categoria.
Secretária Nacional da CNTE de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Educação, Francisca Seixas, ressalta que a pandemia aprofundou algo que já existia. “O adoecimento mental já era muito grave na profissão. Muitos já lidavam com estresse, síndrome de burnout, síndrome do pânico, questões que estão relacionadas aos baixos salários e jornadas extensas, problemas da nossa profissão”, explica.
Para Francisca, a aplicação da Lei do Piso não é apenas uma questão de respeito e de efetivo investimento na educação, mas também de saúde. “A estrutura pela qual a CNTE tem lutado inclui a valorização da carreira com ações como o respeito ao um terço de atividade extraclasse que muitos professores não conseguem exercer por falta de tempo e pelo excesso de aulas que são obrigados a assumir por condições financeiras. A saúde mental passa pela valorização da profissão que pressupõe remuneração, plano de carreira atrativo e boas condições de trabalho”, define.
Sem isso, conforme constata o estudo da confederação, o cenário é de uma epidemia de ansiedade, depressão e desesperança. Além de problemas físicos por excesso de trabalho como doenças ligadas às cordas vocais, distúrbios osteomusculares, lesão por esforço repetitivo e doenças do aparelho respiratório que foram os danos mais notificados.
Meritocracia
A dirigente ressalta ainda que a definição das metas como único parâmetro de educação de qualidade tem transferido aos trabalhadores e trabalhadoras a responsabilidade pelo bom resultado em testes de alunos. A medida é resultado de um processo crescente de apropriação da educação pública pela iniciativa privada e torna ainda mais importante o diálogo entre o Ministério da Educação (MEC) e a CNTE para estabelecer novas estratégias para o ensino público.
Secretária-Geral da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), Fernanda Lou Magano, lembra que a Lei 13.935/2019 determina a inclusão obrigatória de profissionais de psicologia e serviço social em redes públicas para atender às necessidades e prioridades da educação básica.
Ela explica que o papel desses profissionais e da gestão conjunta com professores e professoras, diretores e diretoras é fundamental no preparo ao ambiente para evitar o adoecimento na comunidade escolar diante da responsabilidade de lidar, além de estrutura profissional precária, com populações vulneráveis que são vítimas de violência e precisam ser amparadas por educadores e educadoras. “Temos de ter em mente que oferecer uma estrutura física, de condições dignas e apoio aos trabalhadores, de escuta, e de estudo do ambiente da escola, ao invés de culpabilizar o indivíduo por seu adoecimento é também investir na educação”, define.
Além disso, o estudo da CNTE indica que cabe ao Estado estabelecer mecanismos de escuta dos professores e professoras para radiografar cenários sem anular opiniões contrárias, construir uma estrutura em que é possível ocupar espaços de fala para além das fronteiras conhecidas e permitir àqueles e àquelas que estão no chão da escola possam indicar carências nas organizações do trabalho. Assim como oferecer estruturas mínimas de tecnologia aos educadores e educadoras. Medidas fundamentais para fazer da escola um espaço de formação e não de adoecimento.
Fonte : APLB Sindicato