2020 foi mais um ano sombrio para o meio ambiente na América Latina
A pandemia de Covid-19 reduziu as emissões de contaminantes em todo o planeta, mas não evitou novos registros alarmantes de desmatamento nas florestas da América Latina, nem deu trégua aos defensores do meio ambiente, que continuaram sendo assassinados.
O balanço do Inpe, avaliou o Observatório, “reflete o resultado de um projeto exitoso em aniquilar a capacidade do Estado brasileiro e dos órgãos de fiscalização que cuidam da nossa floresta e combatem o crime na Amazônia”.
Pantanal em chamas
Os incêndios provocados para ampliar as fronteiras agrícolas e pecuaristas se somaram a uma seca prolongada, atribuída em parte aos efeitos acelerados do próprio aquecimento global.
No Pantanal, a maior planície alagada do planeta, que se estende por Brasil, Paraguai e Bolívia, a seca foi uma das mais severas em quase meio século.
Também houve incêndios. Imagens de árvores queimadas, bem como de jacarés, aves e serpentes carbonizados deram a volta ao mundo: um quarto da região foi devastada pelas chamas entre janeiro e setembro.
Os incêndios tiveram níveis máximos também na região vizinha do Gran Chaco (Bolívia, Paraguai e Argentina), o segundo espaço vegetal da América do Sul, depois da Amazônia.
No Delta do Paraná, na Argentina, outro vasto pântano, que abriga uma rica variedade de espécies animais e vegetais, os incêndios aumentaram 170% este ano, disse Elisabeth Möhle, pesquisadora de políticas ambientais da Universidade Nacional de San Martín.
“Morreram répteis, aves migratórias, pequenos mamíferos, tartarugas”, enumerou à AFP o naturalista argentino César Massi. “Durante a seca anterior, em 2018, houve incêndios, mas este ano foi mais forte, mais intenso e mais estendido no tempo”.
As perdas de biodiversidade, coincidem especialistas, são difíceis de quantificar.
Ativistas em perigo
Em meados de junho, a Amazônia perdeu um de seus mais fervorosos defensores, o cacique Paulinho Paiakan, morto de Covid-19 aos 65 anos.
Mas não só o novo coronavírus representou um perigo. Indígenas, camponeses e outros ativistas denunciaram ameaças ao enfrentar interesses de mineradoras, madeireiras, agronegócio, empresas eólicas, hidrelétricas e gasodutos.
Nove dos 20 países com mais homicídios de defensores do meio ambiente no mundo no ano passado foram latino-americanos, segundo a Global Witness, uma ONG que documenta estes crimes há quase uma década. Colômbia, Brasil, México e Honduras encabeçaram a lista.
Em um relatório apresentado em março à Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, Michel Forst, então relator especial sobre os defensores de direitos humanos, declarou que ambientalistas, camponeses, afrodescendentes e indígenas na Colômbia sofrem violações e abusos “quando defendem a terra, o meio ambiente e os direitos humanos”.
Honduras foi outro ponto quente desta violência. Vários ativistas do país tiveram em 2020 a mesma sorte de Berta Cáceres, a reconhecida ambientalista assassinada em 2016 por se opor a uma represa.
Em abril, a líder camponesa Iris Álvarez Chávez morreu nas mãos de forças de segurança durante uma desocupação violenta de terras no sul do país.
A lista de hondurenhos continuou crescendo: Marvin Castro Molina; Roberto Antonio Argueta; José Antonio Teruel, sua esposa, Francisca Aracely Zelaya, e seu cunhado, Marco Tulio Zavala… Todos assassinados.
Em setembro, Óscar Eyraud Adams, um indígena kumiai que se opunha à concentração de água por parte de uma companhia cervejeira no município mexicano de Tecate, foi morto a tiros.
Mais de dois terços dos 212 homicídios de ativistas em 2019 ocorreram na América Latina, a região mais afetada por este tipo de violência, segundo a Global Witness. A tendência indica uma perpetuação em 2020.
Fonte: Carta Capital