Desvalorização do Real favorece alta no preço dos alimentos
A recente alta dos preços dos alimentos alavancou a inflação das classes mais pobres do Brasil, configurando 60% do indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) por faixa de renda. O professor e especialista em inflação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Heron do Carmo, destacou que a desvalorização do câmbio é um dos fatores responsáveis por esse dado.
A desvalorização cambial refletida no aumento do dólar levou a um aumento do preço dos alimentos fora do País. O Brasil é um grande exportador de alimentos, então, se o preço aumenta, a inflação é significativamente afetada, explica o especialista. O preço dos produtos internamente também tem relação com o dólar, “se um sobe, o outro sobe, também”, diz Heron do Carmo.
Ao comentar sobre os impactos que os altos preços têm nas vidas das classes mais baixas, o professor trouxe dados de que variação da inflação em 12 meses até outubro deste ano ficou em 3,92%, enquanto que somente os alimentos semielaborados (carnes, frutas, óleo de soja) aumentaram em 27%. As despesas familiares das classes mais pobres têm maior parcela destinada a gastos em alimentação, o que gera um alto impacto no custo de vida. Heron do Carmo também pontua que grande parte do Auxílio Emergencial dado pelo Estado durante a pandemia foi gasto com custos em alimentação.
Segundo o especialista, a situação dos preços dos alimentos deve voltar à normalidade em 2021, provavelmente no fim do ano. Explica que, como os preços já subiram, há uma tendência de estabilização no pico por um tempo para que, com a evolução da economia e do câmbio, haja uma queda.
Sobre a inflação em outras áreas da economia, Heron do Carmo aponta que a área de transporte aéreo está em alta, mas não afeta as classes mais pobres. “Se nós calculássemos só a inflação da classe média, ela seria menor que a inflação geral, enquanto a dos mais pobres é muito maior que a geral.” O professor também traz previsões de que a inflação deve continuar a aumentar em novembro, mas começar a apresentar recuos em dezembro.
Edição de entrevista à Rádio USP