Enquanto no Brasil os rumos da economia apontam para uma tragédia social de dimensões incalculáveis, os Estados Unidos, com a eleição de Joe Biden para a Presidência da República, debatem como salvar a sua economia. De acordo com o economista Paul Krugman, o avanço da pandemia de coronavírus vai afetar fortemente a economia. “Precisamos desesperadamente de uma nova rodada de gastos federais com saúde, ajuda aos desempregados e empresas, e apoio para governos estaduais e locais em dificuldades”, afirmou ele em sua coluna no jornal The New York Times.
Estimativas razoáveis, afirma, sugerem que o Estado deve gastar US$ 200 bilhões ou mais a cada mês até que uma vacina ponha fim à pandemia. “Mesmo depois que a pandemia acabar, é provável que enfrentemos uma persistente fraqueza econômica e uma necessidade desesperada de mais investimentos públicos”, destacou.
Biden, por sua vez, pediu que o Congresso se reúna e aprove um novo pacote de ajuda econômica para fazer frente aos impactos provocados pelo coronavírus. “Assim que acabarmos com o vírus e oferecermos alívio econômico aos trabalhadores e às empresas, poderemos começar a reconstruir melhor do que antes”, afirmou, segundo a agência Reuters.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) também fizeram alertas importantes, segundo a Agência Brasil. Em relatório conjunto, as entidades dizem que a recuperação do mercado de trabalho na região após a pandemia levará anos e exigirá ações dos governos. Apenas no segundo trimestre de 2020, a região fechou 47 milhões de postos de trabalho a mais que no mesmo período do ano passado.
O documento diz que, mesmo se o Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e do Caribe voltasse a crescer numa média de 3% por ano, a região atingiria apenas o nível do PIB de 2019 em 2023. Caso o PIB regional cresça 1,8% por ano, taxa média observada na última década, o PIB de 2019 só seria alcançado em 2025. Se a região crescer apenas 0,4% ao ano, nível observado desde 2014, o PIB de 2019 não seria atingido na próxima década.
A saída seria pela adoção de políticas ativas de estímulo às economias, acompanhadas de medidas setoriais que promovam o desenvolvimento sustentável com emprego, segundo a Cepal e a OIT. O relatório defende também a expansão do crédito às micro, pequenas e médias empresas e, eventualmente, subsídio do Estado a parte do crédito, permitindo que os empréstimos sejam oferecidos com prazos longos e juros baixos. Os jovens são os mais atingidos pelos efeitos da crise, afirma o documento.
No Brasil, a imobilidade do governo agrava esse cenário. Como era previsto, um ano após a “reforma” da Previdência Social – a primeira panaceia apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, contra os efeitos da crise – não alterou a tendência de agravamento da crise desde a virada na diretriz da política econômica, quando a marcha golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff se iniciou, ainda no final do seu mandato.
O castigo imposto aos trabalhadores contrasta com a conivência em relação aos devedores da Previdência, conforme denunciou o senador Paulo Paim (PT-RS), segundo o site Monitor Mercantil. Seu levantamento mostra que que os maiores devedores do caixa da Previdência – como as empresas Vale do Rio Doce, JBS, Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, e alguns outros – deviam juntos, em 2015, de acordo com o Ministério da Fazenda, R$ 426,07 bilhões.
O economista Eduardo Fagnani, segundo o Monitor Mercantil, afirma que o governo Bolsonaro não deu nenhum passo e não vai dar para receber esses valores, mesmo com a dívida ativa (débitos com o governo) crescendo. “Os grandes devedores da Previdência são parte do problema da dívida ativa que já está na casa dos R$ 3 trilhões, o que equivale a 35% do Produto Interno Bruto, mas sem esforço de fiscalização essa dívida só vai crescer”, afirma.
A dívida dos maiores devedores do INSS é três vezes maior do que a “economia” que o ministro Paulo Guedes diz que vai fazer em dez anos, na Previdência social, afirma o economista. “No Brasil, o sonegador é premiado por refinanciamentos. Ele não paga a Previdência porque espera refinanciamento em dez anos, mas paga somente seis meses, para e de novo vai tentar refinanciar”, diz Fagnani. A “reforma” da Previdência, afirma o economista, já demonstrou tudo aquilo que os seus críticos diziam: que ela afetaria apenas os mais pobres e vulneráveis.
Segundo ele, o INSS foi o sustentáculo das rendas das famílias mais pobres durante a pandemia de coronavírus. “Se pensarmos que 35 milhões de pessoas recebem pouco mais de um salário-mínimo, e se cada beneficiário sustentar três pessoas em sua casa, já são 90 milhões de pessoas sobrevivendo dos benefícios do INSS”, diz. “Quem não se aposentou em novembro do ano passado, já faz as contas e sente na pele porque a aposentadoria ficou mais longe, com regras mais duras e valores menores”. afirma.
Também na contramão da política de Bolsonaro e Guedes, Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central (BC) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), defende ações do Estado para dar condições mínimas de vida para as pessoas menos favorecidas. “Com exceção dos libertários adeptos do darwinismo social, ninguém discorda da necessidade de o governo sustentar a economia diante do extraordinário desafio que enfrentamos”, escreveu ele em artigo no jornal Folha de S. Paulo.
Arida não foge da sua tradicional matriz ideológica neoliberal, mas afirma que por razões humanitárias o governo deve gastar o que for necessário na saúde e na rede de sustentação dos mais necessitados. “Temos que evitar o desemprego em massa que decorreria de recuperações judiciais e falências, apoiando pequenas e médias empresas e setores específicos”, disse ele.
Via: Portal Vermelho