Onças com patas queimadas e animais carbonizados ‘são a imagem do Brasil sob Bolsonaro’
O Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que abriga cerca de 1.200 espécies de animais vertebrados e onde se encontra o maior número de onças pintadas do mundo, além de 36 espécies ameaçadas de extinção, está em chamas. A maior planície de área alagada do mundo é hoje palco de terror para onças e jacarés que agonizam sob os olhos de veterinários, guias, bombeiros e servidores públicos que tentam desesperadamente conter os incêndios.
O fogo atinge também aldeias indígenas. Mais de 100 pessoas do povo Boe Bororo, da Terra Indígena Thereza Cristina, foram removidos às pressas no domingo (13) por conta de um alastramento do fogo. De acordo com reportagem do site El País, o ar também ficou irrespirável na região por causa da fumaça das queimadas na aldeia General Carneiro. O avanço da devastação foi o estopim para que, nesta segunda-feira (14), os governos estaduais decretassem estado de emergência. Na sequência, foi a vez do Ministério do Desenvolvimento Regional reconhecer a calamidade dos incêndios florestais.
Uma atitude “tardia”, como observa o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini. “Na verdade, tudo é tardio nesse governo (de Jair Bolsonaro). A única coisa que não é tardia é o projeto dele de destruição do meio ambiente”, pontua.
Brasil em chamas
Em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, o secretário-executivo destaca que “não há ação, ou plano, nem vontade, projeto ou estratégia e nenhum interesse do governo de atuar de forma positiva” em cima dos incêndios que já destruíram 25 mil hectares dos cerca de 815 mil do Pantanal. “As pessoas estão vendo agora essas cenas na TV e na internet de onças com patas queimadas, animais carbonizados e mortos. Esta é a imagem do atual governo”, critica Astrini.
Depois de fugir dos questionamentos, apenas ontem o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que situação tomou uma proporção “gigantesca” e com prejuízos elevados. Mas atribuiu a enorme devastação a uma combinação de fatores, como o clima seco. No domingo, no entanto, o delegado da Polícia Federal Alan Givigi, que conduz a Operação Matáá, declarou que a causa do fogo seria, na verdade, criminosa. As queimadas estariam sendo usadas por fazendeiros para a criação de áreas de pasto em matas nativas.
“Há um aumento da destruição desse biomas, em resposta a isso o governo diminuiu a sua intervenção nesses locais. Caiu o número de multas no Pantanal, é quase 50% menor. Ele aparelhou as agências que atuam nesses biomas com servidores ou pessoas da reserva da Polícia Militar, que não entendem nada do assunto. Um desfecho disso é que atrasaram todas as contratações de brigadistas. E não sabem o que fazer nesse momento de emergência”, denuncia o secretário-executivo do Observatório do Clima.
Passando a boiada
Reportagem da RBA, a partir de dados da entidade, já mostrava que execução do orçamento voltado para política ambiental a cargo da administração direta do Ministério do Meio Ambiente, até o final de agosto, tinha sido de apenas 0,4% do total. Em paralelo, o Psol apresentou requerimento de convocação para que o ministro se explique. Ao Jornal Brasil Atual, o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) aponta a devastação no Pantanal ao projeto de “passar a boiada”, que Salles propôs em reunião ministerial, de abril, que teve o vídeo divulgado pela Justiça.
“O Salles é esse instrumento, um delinquente, na minha opinião. Essa figura tinha que ser processada, não só afastada, porque é um delinquente. A própria frase dele, de ‘passar a boiada’, mostra que esse pessoal não tem nenhum compromisso, pelo contrário, a aliança é com a destruição, com os desmatadores”, afirma o parlamentar.
Crime ‘corre solto’ na área ambiental
Astrini acrescenta que “não há apenas uma coincidência, uma situação meteorológica. Há um conjunto de fatores que têm participação direta do governo”. De acordo com ele, os incêndios que destroem a Amazônia também têm repercussão sobre o Pantanal. Assim como o desmatamento e as queimadas que atingem o Cerrado e os efeitos atmosféricos que tornam o clima mais seco. Mas o que ocorre, principalmente, é o descaso do governo federal, que mesmo tendo conhecimento desses fatores, não tomou nenhuma medida, como explica o secretário-executivo.
Problemas que se agravam com a atuação das “máfias do desmatamento que operam com margens financeiras enormes”, acrescenta Astrini. “Desmatar custa caro, tem que ser planejado, é um investimento de longo prazo, é feito em grande parte na Amazônia, por exemplo, por bandidos mesmo. Gente que expulsa, que invade comunidades, que sabe que está fazendo na ilegalidade, que espera uma brecha para se legalizar, ou uma anistia. O que está acontecendo agora, com as demonstrações desse governo, de que vai deixar o crime correr solto, diminuindo fiscalização”, enfatiza o secretário-executivo do Observatório do Clima.
Confira a entrevista
Via: RBA