O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), ligado à Fundação Getulio Vargas (FGV), considerou que o Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre do ano. Em sua última reunião, na sexta-feira (26), o comitê identificou que a economia brasileira começou a cair já no quarto trimestre de 2019 – antes, portanto, do avanço da pandemia do novo coronavírus no País.
A rigor, como governantes só começaram a adotar medidas de restrições, como a quarentena, na segunda quinzena de março (ou seja, no fim dos dois trimestres de crise), a recessão não tem ligação direta com a pandemia. É fruto, sobretudo, dos desacertos da política ultraliberal do governo Jair Bolsonaro, liderada pelo ministro Paulo Guedes.
Segundo o comitê, houve “a ocorrência de um pico no ciclo de negócios brasileiro no quarto trimestre de 2019. O pico representa o fim de uma expansão econômica que durou 12 trimestres – entre o primeiro trimestre de 2017 e o quarto de 2019 – e sinaliza a entrada do País em uma recessão a partir do primeiro trimestre de 2020”.
O IBGE havia mostrado, no início de junho, queda de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre frente ao pico identificado pelo comitê no quarto trimestre. É a maior queda desde o segundo trimestre de 2015. Mas o comitê considera um conjunto de indicadores para estabelecer o início de um período recessivo ou de expansão.
O comitê também considerou o último período recessivo antes da pandemia como o mais longo em meses desde que há dados para datação dos ciclos. A economia brasileira retraiu por 33 meses seguidos – tempo superior aos 30 meses de recessão entre 1989 e 1991, quando o Plano Collor determinou o confisco.
Criado em 2004 pela FGV, o Codace determina uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros, estabelecida pela alternância entre datas de picos e vales no nível da atividade econômica. A fase cíclica marcada pelo declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominada recessão. A fase entre um vale e um pico do ciclo é chamada expansão.
O comitê é formado por oito membros com conhecimento em ciclos econômicos. No comunicado desta segunda-feira, o comitê também informou a entrada de dois novos membros: os professores Fernando Veloso, em substituição a Regis Bonelli, e Vagner Ardeo, na condição de membro secretário sem direito a voto.
Além deles, estiveram presentes na reunião os economistas Affonso Celso Pastore, diretor da AC Pastore & Associados, como coordenador; Edmar Bacha, diretor do Iepe-Casa das Garças; João Victor Issler, professor da FGV/EPGE; Marcelle Chauvet; professora da Universidade da Califórnia; Marco Bonomo, professor do Insper; e Paulo Picchetti, professor da FGV/EESP e pesquisador do FGV/Ibre.
Via: Valor Econômico