Badaró lamenta casos de coronavírus entre mais pobres: 'Necessidades básicas são muito maiores do que Covid'

Badaró lamenta casos de coronavírus entre mais pobres: 'Necessidades básicas são muito maiores do que Covid'
Foto : Matheus Simoni/Metropress

Geral CTB Geral 20/04/2020

O médico infectologista Roberto Badaró lamentou que a população mais carente do país não tem como prioridade o combate ao coronavírus. Ele explicou que, diante das necessidades, os mais pobres não têm o que comer, não têm onde morar e não têm acesso à saúde. "Em bairros periféricos da Suécia e da Suíça, ela começou a se disseminar também. Demorou quase dois meses para chegar em fazendas e cidade isoladas. A gente está colocando uma realidade que é de país diferente, mas a distância social perversa que temos, onde os que têm muito, têm muito, e os que não têm nada, não têm nada, são de que aqui eles vivem em conglomerados. Para eles, as necessidades básicas são muito maiores do que Covid-19", comentou, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (20).

Badaró citou uma visita que fez ao Zimbabue quando colaborou com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em meio à epidemia do vírus HIV no país africano. "Nós fomos ao Zimbabue e fomos falar com o ministro. Na época, 25% de sua população estava infectada com HIV. Ele chegou para mim e mostrou uma lista com 10 problemas mais importantes. E disse: 'somente tenho 5 dólares per capta para gastar com saúde'. Na lista tinham diarreia, sarampo, morte por animais, e a AIDIS vinha no décimo lugar. Ele perguntou: 'você acha que eu tenho dinheiro para gastar com esse remédio e deixar de vacinar uma criança?'. É o que vemos", lamentou o  profissional de saúde.

"Covid não é um grande problema para essa população frente às outras coisas que estão vivendo. Não cai na realidade deles a criança que está com tosse, diarreia e gripada. A forma de conscientização das pessoas, que é um problema maior em questão de subsistência, é difícil. Não há uma resposta específica, mas acho que é questão de prioridade. Covid não é uma prioridade para essas pessoas frente às outras prioridades que eles enfrentam", declarou Badaró. 

O infectologista ainda reforçou a necessidade de ampliar o isolamento social e garantir que as pessoas contaminadas sejam identificadas e testadas o quanto antes. "Os casos estão ocorrendo porque se contaminou muita gente. Nos EUA já atingiu mais de 750 mil casos. É um negócio enorme. Agora a gente precisa encontrar as pessoas que estão infectadas e isolá-las para poder desativar a epidemia. Você precisa tirar a progressão dela e impedir que elas adquiram as doenças. Tenho visto a esmagadora dedicação da imprensa na epidemia e anúncio das medidas possíveis", afirmou Roberto Badaró.

Metro 1