Após 23 anos de jejum, a Unidos do Viradouro volta a ser campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. Com o enredo Viradouro de Alma Lavada, a escola de Niterói levou à Marquês de Sapucaí a história do grupo das Ganhadeiras de Itapuã – quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em Salvador em busca da compra de sua alforria.
Essas mulheres foram exaltadas no desfile como as “primeiras feministas do Brasil”, pela força que tiveram para ir atrás da liberdade e pela importância para a cultura da Bahia. Além do tema marcante – uma ode à cultura baiana e ao poder feminino –, o samba da Viradouro tinha influência de afoxé, ritmo baiano, nos batuques e na melodia. Foi o primeiro desfile que o casal de carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon fizeram juntos na Viradouro.
“Marcos e Tarcísio corresponderam, conseguiram nos trazer o enredo, dentro de algumas opções”, disse o presidente da Viradouro, Marcelo Calil, que chamou atenção para a renovação dentro da escola desde 2016. “Quando a gente viu esse enredo, a gente se apaixonou. [Era] uma história representativa, uma história muito bonita, que nos honrou muito fazer. Tenho certeza que está em festa Itapuã, a Bahia está em festa.”
Na comissão de frente, a atleta da seleção brasileira de nado sincronizado Anna Giulia, vestida de sereia, dava mergulhos de até um minuto em um aquário com 7 mil litros de água mineral, representando a Lagoa do Abaeté. A cantora Margareth Menezes desfilou como destaque do carro que lembrou as cirandas de roda à beira do mar aberto – uma contribuição das Ganhadeiras à música baiana.
Teve até cocada para o público. Os doces foram distribuídos ao lado das baianas, que representaram as quituteiras. As saias eram bordadas com figuras de abará, tapioca e acarajé.
A rainha de bateria, Raissa Machado, pelo sétimo ano na Viradouro, vestiu uma fantasia em homenagem a Luiza Mahin, uma das lideranças da Revolta dos Malês pela libertação dos escravos em Salvador. Já o grupo de encerramento se chamava “Lute como uma mulher!”, e levou mulheres negras ligadas à pauta feminista para a avenida.
Na apuração, realizada na tarde desta quarta-feira (26), a Grande Rio liderou a disputa até o 7º quesito, de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. A partir deste momento, a Viradouro assumiu o primeiro lugar e levou o troféu. É o segundo título da escola, que já tinha sido campeã do Grupo Especial do Rio em 1997. A Viradouro ficou anos na Série A e, em 2019, foi vice-campeã com um enredo sobre histórias encantadas.
Via Portal Vermelho