Ameaçado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro, Sergio Moro avisou a aliados que deixará o governo se o seu ministério – o da Justiça e Segurança Pública – for desmembrado. Nesta semana, Bolsonaro declarou que pretende recriar o Ministério da Segurança, o que esvaziaria os poderes de Moro. Segundo a Folha de S.Paulo, o ministro admitiu a pessoas próximas que está “chateado” e que não falou com o presidente nesta quinta-feira (23). Na polícia, a história é tratada como um balão de ensaio.
A Folha também aponta que, além de explicitar “a queda de braço não oficial entre Jair Bolsonaro e seu ministro mais popular”, a ideia da recriação do Ministério da Segurança Pública revela “a disputa interna pelo comando da Polícia Federal”. Em reuniões, Moro já se posicionou contrário à indicação de Anderson Torres para chefiar a PF. Secretário de Segurança do Distrito Federal, Torres foi o principal articulador da volta da pasta.
Com o veto de Moro à sua nomeação, Torres passou a articular a recriação do ministério, com o apoio do ex-deputado Alberto Fraga (DEM). Segundo Fraga, está quase tudo certo para ele virar ministro, se a pasta for recriada – Torres seria seu diretor-geral.
O secretário do DF tem se movimentado há quase um ano para virar chefe da Polícia Federal. A colegas, afirma ser o nome perfeito para a “arejada” que Bolsonaro disse querer dar na PF.
A disputa pelo poder da PF vem desde agosto, quando Bolsonaro ameaçou trocar o diretor-geral, Maurício Valeixo. O assunto nunca esfriou e a mudança é tratada como provável desde então. Nos bastidores, o secretário do DF tinha posto como prazo limite para a definição de sucessão na PF a data de 31 de janeiro.
Já o Estadão, em matéria com o título “Bolsonaro puxa o tapete de Moro”, reitera que mudar o ministério é uma resposta do presidente à entrevista de Moro, na segunda-feira (20), ao programa Roda Viva, da TV Cultura: “O ministro se mostrou mais político e, embora tenha dito várias vezes que não contraria Bolsonaro publicamente, marcou diferenças com o presidente em matérias como liberdade de imprensa, delações premiadas e juiz de garantias”.
Ao mesmo tempo, Moro intensifica a própria construção de imagem nas redes sociais. O ministro, que já virou assíduo no Twitter, anunciou nesta quinta a entrada para o Instagram, para poder interagir com outro público. “Há quem veja o ex-juiz em estágio bem avançado de construção de uma candidatura. E é justamente isso que tira o sono do sempre paranoico Bolsonaro”, conclui o Estadão.