O candidato de esquerda Gabriel Boric venceu o 2º turno das eleições presidenciais do Chile realizadas neste domingo (19/12) e foi eleito presidente do país. Com mais 68% das urnas apuradas, o representante da coalizão Apruebo Dignidad (que reúne a Frente Ampla e o Partido Comunista) recebeu 55,18% dos votos e superou o candidato da extrema direita José Antonio Kast, que conquistou 44,82%.
Pelo Twitter, Kast reconheceu a derrota: “Acabo de falar com Gabriel Boric e o cumprimentei por seu grande triunfo. A partir de hoje ele é o presidente eleito do Chile e merece todo nosso respeito e colaboração construtiva”, disse.
Nascido na província de Magallanes, na região mais ao sul do país, Boric acaba de se tornar o presidente mais jovem do Chile: ele assumirá o poder em março com 36 anos, cinco a menos que Manuel Bulnes, que tinha 41 quando chegou à Presidência em 1841.
Boric se tornou figura pública nacional durante as grandes marchas do movimento estudantil, entre os anos 2011 e 2013. Foi presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile no ano de 2012 e um dos líderes daquela onda de protestos que pedia o fim das dívidas estudantis e a gratuidade nas instituições de ensino, desde o ensino fundamental até o superior.
Em 2013, disputou as eleições como candidato independente e foi eleito deputado pela primeira vez, junto com outros líderes estudantis, como Camila Vallejo, Giorgio Jackson e Karol Cariola. Durante seu primeiro mandato, ajudou a fundar a Frente Ampla, junto com Jackson, reunindo vários pequenos partidos ligados a ex-líderes estudantis.
Em 2021, a Frente Ampla fez uma aliança com o Partido Comunista – de Vallejo e Cariola – e surgiu assim a coalizão Aprovo Dignidade, a qual ele passou a encabeçar após vencer as eleições prévias em julho passado, ao superar o comunista Daniel Jadue, prefeito da comuna de Recoleta, uma das mais populosas da região metropolitana de Santiago.
Essa foi a segunda tentativa da Frente Ampla em uma eleição presidencial. A coalizão nasceu justamente no ano da última disputa, em 2017, para ser uma alternativa que congregasse os independentes de esquerda e pequenos partidos chilenos.
Para aquela primeira campanha presidencial, a Frente Ampla convidou uma figura de fora da política para ser sua candidata: a jornalista Beatriz Sánchez, que terminou o primeiro turno com 20,2% dos votos, e ficou a apenas 2,5% atrás de Alejandro Guillier, da Nova Maioria (centro-esquerda tradicional, a antiga Concertación), que passou ao segundo turno.
Nas eleições legislativas daquele ano, a coalizão teve um resultado ainda melhor para quem estreava nas urnas, elegendo 21 parlamentares (20 deputados e 1 senador). Também se destacou por ter uma maior quantidade de mulheres eleitas, em comparação com as demais alianças: das 20 vagas na Câmara conquistadas pela Frente Ampla, 8 foram de mulheres.
Durante a campanha de 2021, o programa de governo da coalizão Apruebo Dignidad foi considerado o mais sintonizado com as reivindicações que originaram os protestos de 2019: a candidatura de Boric promete o fim da previdência privada e a adoção de um novo sistema público, além da criação de um sistema público de saúde. Também defende a refundação das polícias, taxação das grandes fortunas e um projeto de industrialização do país, visando uma economia chilena menos dependente da exportação do cobre e de outras matérias primas. Propostas que o transformaram em preocupação para a grande imprensa chilena, que o rotula como um “radical de esquerda”, mas que o aproxima dos movimentos sociais.
Segundo a analista política Marta Lagos, da consultora Latinobarómetro, “as propostas de Boric são as que mais se sintonizam com o que a sociedade chilena está demandando desde a revolta social de 2019. Outro fator relevante é que ele é muito jovem, como a grande maioria dos que protestaram naquela ocasião. No entanto, isso também o obriga a provar ao seu eleitor que, apesar dessa juventude, ele é a pessoa ideal para liderar esse projeto”.