Junto à BYD, Sindicato dos Metalúrgicos intermedia solução contra trabalho escravo
Geral 26/12/2024 Escrito por:
Após o triste episódio do resgate, no dia 23, de 163 chineses que trabalhavam em condições análogas ao trabalho escravo, a BYD cancelou o contrato com a Jinjiang Construction Brazil, responsável pelas obras da fábrica de carros elétricos. Em nota, a montadora reconheceu que a empreiteira cometeu graves irregularidades e disse que não tolera desrespeito à lei brasileira a à dignidade humana. Também encaminhou os funcionários para hotéis da região e se comprometeu a colaborar com os órgãos competentes.
Nesse período, o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari intermediou conversas para solucionar o problema, uma vez que a empresa chinesa decidiu iniciar as atividades em 2025. "Fizemos a ponte no diálogo entre o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e a BYD, para colocar a representação dos operários nos debates e encaminhamentos futuros. Também sugerimos à montadora contratar uma empresa brasileira para seguir a construção da fábrica, pois conhece nossas leis e a Convenção Coletiva da categoria, além de fazer o dinheiro circular em nosso estado. Estamos solidários aos funcionários e ao SINDTICCC para ajudar. Os metalúrgicos e a CTB não admitirão situações absurdas como essa, nem desrespeito aos direitos trabalhistas. Queremos trabalho decente", afirma Júlio Bonfim, dirigente dos Metalúrgicos e da Central.
Nas redes sociais, a Jinjang Construction afirmou que as acusações são inconsistentes com a realidade. Entretanto, os fatos constatados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) não mentem. Segundo os auditores fiscais, os trabalhadores foram encontrados em condições degradantes, distribuídos em quatro alojamentos mantidos pela empresa.
Os alojamentos apresentavam irregularidades graves:
>> Camas sem colchões ou com revestimentos inadequados;
>> Falta de armários, com itens pessoais misturados a alimentos;
>> Banheiros insuficientes e precários, com um caso de 31 trabalhadores compartilhando um único banheiro;
>> Refeitórios sem condições mínimas de higiene e banheiros químicos em estado deplorável.
Além disso, foi constatada exposição à radiação solar sem proteção adequada, jornadas exaustivas e acidentes recorrentes relacionados às condições de trabalho. Entre os casos relatados, um trabalhador sofreu um acidente ocular sem acesso a atendimento oftalmológico, enquanto outro teve um acidente provocado por privação de sono.
Também foram identificadas situações de trabalho forçado:
>> Pagamento de caução para contratação;
>> Retenção de 60% do salário, com apenas 40% pagos em moeda chinesa;
>> Passaportes retidos, dificultando a saída ou o retorno ao país de origem;
>> Custos excessivos para rescisão contratual;
De acordo ainda com o MPT, jornadas de 10 horas diárias e folgas irregulares agravavam a situação. Muitos trabalhadores descansavam sobre materiais de construção, com restrições de movimento e contratos redigidos de forma confusa ou não formalizados.
com informações do MPT