Para marcar as celebrações do Novembro Negro, a CTB Nacional realizou, nesta terça-feira (19), o seminário "A inserção do negro no mercado de trabalho - Entre o imaginário e a realidade", com o professor da UFSB e escritor Richard Santos. O evento aconteceu no Sindicato dos Bancários da Bahia, em Salvador. "Essa é uma das várias atividades que a Central realiza para produzir reflexões e indicar caminhos que ajudem a combater o racismo em nossa sociedade. Essa é uma luta cotidiana dos movimentos negros, que tem apoio do sindicalismo", afirmou Lucimara Cruz, responsável pela Comissão Nacional de Combate ao Racismo da CTB e condutora da atividade.
A presidenta da CTB Bahia, Rosa de Souza, saudou os participantes destacando a importância de debater o problema junto à classe trabalhadora. "Essas iniciativas ajudam a orientar nossos sindicatos a desenvolverem um trabalho de conscientização de suas categorias para que reforcem a luta contra o preconceito e discriminação em toda a sociedade", pontuou.
Segundo o presidente da CTB Nacional, Adilson Araújo, é importante que o movimento sindical vincule a luta contra o racismo com as lutas políticas em curso. "Vemos o mundo sob tensão perigosa com ameaça de ataques nucleares em função da ação imperialista dos EUA, que autorizou a Ucrânia a usar seus mísseis contra a Rússia, que promete reagir com armas nucleares. No Brasil, é importante lutarmos pelo êxito do governo Lula, que está sendo pressionado pelo Centrão e pelo mercado financeiro, e reforçarmos as ações pela aprovação da PEC que acaba a escala 6x1", destacou.
Convidada para a abertura do seminário, a secretária de Promoção da Igualdade Racial do governo baiano, Ângela Guimarães ressaltou que a escravidão firmou as bases do desenvolvimento econômico no Brasil. "As desigualdades que ainda temos são frutos dessa herança perversa. Quem está na base, nas atividades mais precárias, sem direitos e com os piores salários tem a cor negra e é feminina. Nós temos produção intelectual e política sobre o racismo estrutural. A luta é importante para combater as desigualdades de classe, raça e gênero. A Sepromi atua para tentar reverter essa situação e conta com as centrais sindicais", enfatizou.
ENTRE O IMAGINÁRIO E A REALIDADE
"Para compreender a inserção do negro no mercado de trabalho no Brasil é fundamental revisitar as dinâmicas econômicas e sociais que surgiram com a escravidão e se perpetuaram mesmo após a abolição, em 1888", afirmou Richard Santos ao iniciar a palestra. Para ele, o mito da meritocracia ainda domina o imaginário social, mas a realidade é bem diferente. "Dados recentes mostram que os negros ganham, em média, salários muito menores do que os brancos e estão concentrados em ocupações precarizadas, como o trabalho doméstico e a construção civil. Enquanto isso, são sub-representados em cargos de liderança e profissões de prestígio. Apesar do avanço de políticas afirmativas, como as cotas raciais, a exclusão permanece evidente, revelando a força da forma racial no Brasil", ponderou.
Segundo o professor, a inserção do negro no mercado de trabalho é um processo que revela as contradições entre o discurso de igualdade e a realidade da exclusão. "É importante reconhecer as lutas históricas e contemporâneas dos negros para resistir a essa exclusão. Desde os quilombos, até o Movimento Negro Unificado e a UNEGRO , as pessoas negras organizadas têm desafiado as estruturas que sustentam a desigualdade racial. As políticas afirmativas, como as cotas universitárias, representam conquistas importantes, mas ainda enfrentam resistências, especialmente por parte de quem acredita no mito de uma igualdade racial já alcançada no Brasil", frisou.
CAMINHOS
Ao final, Richard disse que pensar a inserção do negro no mercado de trabalho hoje, é transitar entre a linha que divide o imaginário e a realidade. Esta realidade está baseada no mercado de trabalho contemporâneo sob forte precarização. "O neoliberalismo, ao priorizar o mercado livre e a desregulamentação, enfraqueceu os sistemas de proteção social e promoveu a ideia de que o trabalhador deve ser um "empreendedor de si mesmo. O trabalhador negro, já historicamente excluído de posições estáveis e protegidas, se vê ainda mais vulnerável.
Para o pesquisador, a resistência a esse modelo passa pela articulação de lutas que combinem o combate à precarização do trabalho e a luta antirracista. "A verdadeira transformação só virá com a construção de uma sociedade que enfrente de forma radical as raízes do racismo e do capitalismo explorador. A luta pela dignidade no trabalho e pela igualdade racial é, na essência, uma luta pela justiça social ampla e estruturante", finalizou.