"A comunicação que fazemos serve para enfrentar esse cenário?", provoca Altamiro Borges
Geral 04/04/2024 Escrito por:
O 2º Encontro Nacional da Rede CTB de Comunicação começou nesta quinta-feira (4), e com uma bela provocação do jornalista Altamiro Borges, Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé: "A comunicação que fazemos serve para enfrentar esse cenário atual, complexo?". Vários dirigentes e profissionais de comunicação de sindicatos filiados à Central estão no Rio de Janeiro e vão quebrar a cabeça para responder a pergunta. O evento acontece no Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e vai até sábado (6).
Na abertura, o presidente nacional da CTB, Adilson Araújo, destacou o esforço que a entidade realiza para melhorar a comunicação classista. "Não tem resposta fácil para questões complexas. A Primavera Árabe (atos no Oriente Médio em 2010) e os protestos contra Dilma (2013) no Brasil mostram o poder da comunicação, que aliada à luta política, muda realidades. Vimos o fortalecimento da extrema-direita, gerando problemas para a esquerda. Perdemos a narrativa em várias derrotas, como a reforma trabalhista e a reforma da previdência. Precisamos reverter esse quadro", pontuou.
O dirigente destacou que é preciso superar rápido as dificuldades pois há uma forte regressão do trabalho e dos direitos. "Observamos o trabalho escravo na era digital, quando a inovação tecnológica deve servir para melhorar a vida humana e o trabalho. O sindicalismo precisa ser mais amplo e não se limitar à luta econômica das categorias. É importante ter ações mais coletivas e de interesse da sociedade. Precisamos de mais produção de conteúdos próprios das entidades para fazer a luta de ideias. A comunicação é central para a disputa de narrativas na sociedade e na luta de ideias. Vamos propagar ideias do trabalho decente e de uma sociedade mais humana e menos desigual. Esse encontro é para nos colocar em um novo patamar", afirmou.
BOM DEBATE
Altamiro Borges e o professor Marcos Dantas (do Comitê Gestor da Internet no Brasil) falaram sobre o momento político atual e a comunicação. "Temos um grande problema com a comunicação. Falo da esquerda, do governo e das entidades sindicais. O problema está na própria sociedade e o desafio é entender que sociedade é que temos atualmente. Bolsonaro teve quase 60 milhões de votos, vindos da grande maioria de pobres e trabalhadores. Não houve resistência da sociedade aos ataques da direita. É preciso entender a força das redes sociais. Antes, as produções de conteúdos eram só da imprensa oficial. Agora, a própria audiência (o público) faz isso, também. Mas, a lógica econômica segue a mesma: é produzir audiência para atrair publicidade. O poder econômico ainda manda. Vivemos a época dos monopólios, que criam abismos econômicos e sociais, e impõem suas vontades a todo mundo. Os meios de comunicação são dirigidos pelo grande capital e o algoritmo é quem dá o tom. São as plataformas que definem o que faz sucesso nas redes e o que interessa destacar ou omitir. O algoritmo não é nosso. Precisamos superar as dificuldades de apresentar alternativas de comunicação para atingir a maioria do povo e regular as mídias digitais é fundamental", enfatizou.
Segundo Altamiro Borges, é necessário entender o capitalismo das plataformas para enfrentar melhor os desafios. "Dos 10 maiores bilionários do mundo, 7 são da área de informação e donos das big techs. Temos que analisar a comunicação no contexto do capitalismo atual e da luta política, com seus avanços e retrocessos. Vemos o governo com limitações para avançar mais e a direita ainda muito forte no Brasil, que voltou mais ativo mundialmente com Lula. Há o resgate de políticas públicas importantes, redução da fome e a economia reagindo bem (com mais renda e empregos), mais democracia e diálogos com segmentos da sociedade", destacou.
Entretanto, segundo Borges, a situação ainda é adversa para a esquerda e os movimentos sociais, com um Congresso pior e mais chantagista. "Vemos dificuldades de mobilização social, o que dificulta para o governo avançar. Mesmo com Bolsonaro na defensiva, o bolsonarismo segue ativo nas ruas e nas redes, com militância, e em vários partidos. É bom nos prepararmos, pois a extrema-direita vem forte para as eleições de outubro. O PL quer eleger 1.500 prefeitos. Cabe perguntar: A comunicação que fazemos serve para enfrentar esse cenário complexo? Penso que não e precisamos melhorar, seja no campo institucional ou na sociedade. A luta é dura contra a mídia tradicional e o "esgoto" digital. Vemos a grande mídia defendendo a Lava Jato e Sérgio Moro, além de uma nova onda de escandalização da política. O governo precisa ter uma estratégia de comunicação para enfrentar a direita. Vivemos tempos de guerra e a Secom faz comunicação para tempos de paz. Tem uma boa equipe e bons projetos, mas falta estratégia. Tem que pautar a sociedade e fortalecer os meios alternativos para ajudar na luta. Os movimentos sociais precisam superar as dificuldades para melhorar a comunicação, entendendo as novas linguagens. Já os sindicatos, precisam reduzir o corporativismo e melhorar a ação em rede com as demais entidades", frisou.