Jerônimo fala dos desafios contra o racismo no mercado de trabalho

Jerônimo fala dos desafios contra o racismo no mercado de trabalho

Geral 20/11/2023 Escrito por:

Celebrar o 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, é sempre um momento importante para se refletir sobre o racismo persistente no Brasil, em pleno Século 21. Além do racismo na sociedade em geral, preocupa, também, o problema no mercado de trabalho. Uma pesquisa feita pela empresa CEGOS, de treinamento e desenvolvimento, para a CNN Brasil, mostra que 75% das empresas brasileiras apontam o racismo como principal discriminação no ambiente de trabalho, seguido por opiniões políticas (42%) e aparência física (37%).

A pesquisa ouviu mais de 4 mil profissionais de RH em sete países: Brasil, França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Espanha e Portugal. Pelo mundo, 82% dos entrevistados já testemunharam alguma forma de discriminação no trabalho. O resultado mostra que, mesmo com leis existentes, a discriminação ainda é forte. Nesses países, os funcionários mencionam a aparência física em primeiro lugar (46%), seguida da idade (42%), racismo (41%) e gênero (38%). O estudo revela, ainda, que 63% dos colaboradores que participaram do levantamento disseram que já sofreram com pelo menos uma forma de discriminação. Em sua maioria, os atos são realizados primeiro por colegas e depois por gerentes diretos.

CTB ATENTA

Atentas ao problema, as entidades sindicais criaram secretarias ou departamentos referentes ao tema. Para o secretário de Combate ao Racismo da CTB, Jerônimo Silva Júnior, o racismo sustenta a estrutura social, política e econômica da nossa sociedade. "Foram 350 anos de escravidão, o Brasil foi o último a realizar a abolição e a escravidão segue enraizada, de forma inconsciente e consciente, na mente das pessoas", ponderou durante a lavagem da Estátua de Zumbi, no Centro de Salvador.

Segundo o sindicalista, o racismo estrutural precisa ser combatido. "A sociedade naturaliza atitudes, comportamentos, fatos e pensamentos que reforçam o preconceito racial contra os negros, em todos os espaços. Isso reforça uma estrutura absurda nas relações sociais, que busca manter a população negra em situação constante de inferioridade", critica.

Jerônimo lembra que, apesar do aumento de negros nas universidades, ainda são minoria em cargos de liderança em empresas. "A CTB e os sindicatos classistas devem intensificar a luta contra o racismo nas empresas e tratar o tema nas convenções coletivas, colocando cláusulas que promovam a igualdade racial. O mercado de trabalho se coloca, também, como espaço reprodutor das desigualdades na sociedade. Precisamos de mais políticas de ação afirmativa observando classe, raça e gênero. O governo Lula atualizou a Lei das Cotas, o que é mais uma conquista. Entretanto, o País precisa avançar muito mais. Celebramos o 20 de Novembro exaltando Zumbi e todos que lutaram e lutam contra o racismo, com esses desafios atuais", enfatiza. 

MAIS NÚMEROS DA DESIGUALDADE

Com base nos dados do segundo trimestre de 2023, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) mostra a desigualdade em números e como o mercado de trabalho ainda é espaço de reprodução da desigualdade racial.  

SALÁRIOS

Mulheres ganhavam 38,4% menos que mulheres não negras, que ganhavam 52,5% menos que homens não negros e e 20,4% menos que homens negros. Estes ganhavam 40,2% menos que homens não negros e 22,5% menos que mulheres não negras.

CARGOS

Embora representem 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros ocupavam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência. Ou seja, um em cada 48 trabalhadores negros ocupa função de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para 18 trabalhadores.

OCUPAÇÃO

Entre os desocupados, 65,1% eram negros. A taxa de desocupação das mulheres negras é de 11,7%, mesmo percentual de um dos piores momentos enfrentados pelas pessoas não negras: a pandemia. A taxa de desocupação dos não negros está em 6,3% no 2o trimestre de 2023. Quase metade (46%) dos negros estava em trabalhos desprotegidos. Entre os não negros, essa proporção era de 34%. Uma em cada seis (16%) mulheres negras ocupadas trabalha como empregada doméstica.