Valorização do salário mínimo e luta de classes
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Por Eron Bezerra *
Todos os veículos de comunicação, mesmo a contragosto, tiveram que divulgar o novo salário mínimo de 880 reais. Foram obrigados, ainda, a registrar que nos governos Lula e Dilma, apenas no período de 2003 a 2015, o salário mínimo teve uma valorização real de 76%, o que se constitui num fato absolutamente inédito na história do Brasil.
Lamentavelmente não é isso que os principais veículos de comunicação enfatizaram. Sequer se preocuparam em analisar o que tal feito representa em termos de bem estar para os diretamente beneficiados. Muitos menos se preocuparam em fazer comparações simples como, por exemplo, quantas cestas básicas se comprava com o salário mínimo de 2002 e de 2016.
Toda a ênfase desses veículos de comunicação é quanto o governo vai gastar para honrar esse compromisso e continuar fazendo valer a política de valorização do salário mínimo. Também não há ênfase na divulgação do montante de recursos que essa política faz “trocar de mãos” e nem tampouco no montante pessoas beneficiadas.
Vamos então, didaticamente, sistematizar essas informações. O novo salário mínimo de 880 reais beneficiará diretamente em torno de 48 milhões de pessoas e representará um volume de recursos da ordem de 550 bilhões de reais, dos quais nada menos do que 418 bilhões de reais decorrem da valorização real do salário mínimo.
Em dezembro de 2002 – último mês de governo de FHC (PSDB) – o salário mínimo era 200 reais, valor insuficiente para comprar uma cesta básica que, à época, custava 208 reais. Em janeiro de 2016, um salário mínimo de 880 reais compra 03 cestas básicas em Aracaju e 2,10 cestas em Porto Alegre, cidades que em 30 de dezembro de 2015 possuíam as cestas básicas mais barata (296,82) e mais cara (418,82), respectivamente.
De posse desses números talvez fique mais fácil entender porque a direita (PSDB, DEM, PPS) tem tanto ódio desse governo, a quem acusam de promover “gastança”. O que eles chamam de gastança é exatamente a execução de programas de valorização real do salário mínimo, “luz pra todos”, “bolsa família”, “minha casa minha vida”, bolsas e programas de apoios a estudantes e universidades, etc.
Na lógica da direita essa montanha de recursos, que hoje ajudam a melhorar um pouco a vida de milhões de pessoas que historicamente ficaram à margem das políticas públicas, deveriam continuar irrigando os cofres de banqueiros e outros potentados que sempre tiveram e continuam tendo muito.
E isso explica muita coisa, especialmente porque a direita tem tanto interesse em encurtar o mandato da presidenta. Sob essa lógica macabra é necessário golpear o governo para parar essa política de transferência de rendas que, se por um lado, melhora a vida de 48 milhões de pessoas, reduz, embora de forma residual, a extraordinária lucratividade dos banqueiros e derivados. É o clássico conflito distributivo de renda.
* Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.