Revolta dos Malês: a grande insurreição escrava de 1835

Revolta dos Malês: a grande insurreição escrava de 1835

Este autor não possui descrição

A grande insurreição escrava de 1835 encerra o grande ciclo de levantes ocorridos em salvador no século XIX, se sucedendo em 1807, 1813, 1822, 1823, 1826, 1830 e, finalmente em 1835, que é classificado por Clóvis Moura como insurreição e, por J.J. Reis, como levante. Este movimento foi muito mais articulado do que os anteriores e já demonstrava certo grau de organização manifestado através da existência de núcleos em diversos pontos de Salvador e do Recôncavo.

Havia, também, sido organizado um sistema de auxílio financeiro para as despesas do movimento. O plano militar foi elaborado antecipadamente em suas conclusões distribuídas entre os principais responsáveis. Em resumo seria o seguinte: partiria um grupo da Vitória, liderado pelo chefe do Clube da Barra, “tomando a terra e matando gente da terra de branco”, se dirigindo para Água de Meninos, na Cidade Baixaa, e, em seguida, para Cabrito, “atrás de Itapagipe”, onde se reuniram os demais negros com a assinatura de um que se intitulava Mala Abubaker.

O plano não funcionou em consequência da delação. Ao saber da notícia do levante, o juiz de paz do distrito comunicou ao presidente da província. Com isto, a cidade ficou em pé de guerra. O chefe de polícia partiu imediatamente para Bonfim com o objetivo de evitar a junção dos insurretos com os dos engenhos próximos. Os escravos anteciparam a data da revolta. A situação não comportava mais esperas e, no estágio em que o movimento se encontrava, não era mais possível recuar. Por outro lado. As batidas se sucederam nas casas dos escravos e demais envolvidos.

Na noite de 24 de janeiro iniciou-se o movimento armado. Os primeiros tiros partiram da casa de Manoel Calafate, na loja da segunda casa da Ladeira da Praça, que foi cercada. Mas, os escravos conseguiram romper o cerco e se dirigiram para a Ajuda, onde tentaram arrombar a cadeia para libertar Pacífico Licutã e outros presos. Não conseguindo, vão para o largo do teatro e travam combates com a polícia, derrotando-a.

Com isto, abriram caminho até o forte de São Pedro. Vendo ser impossível tomar aquele reduto de artilharia, tentam estabelecer contato com uma Coluna que vinha da Vitória sob o comando dos dirigentes do Clube da Barra. Essa coluna já havia se unido ao grupo do Convento das Mercês.

Os escravos da Vitória atravessaram o fogo do forte e operaram a junção planejada, abrindo caminho para a Mouraria, empenhando-se, novamente, com as forças legais. Perderam o "combate dos homens". Rumam em seguida para a Barroquinha, voltando, outra vez, para a Ajuda, certamente numa segunda tentativa de libertar Pacifico Licutã. Dali, se estabeleceu uma mudança na marcha, quando desceram para a Baixa dos Sapateiros, seguindo pelos Coqueiros. Saíram em Água de Meninos, onde travaram o combate final.

O Chefe de polícia ordena que as tropas carreguem escravos que caem varados também pelas balas de uma força de infantaria postada nas janelas do forte. As posições mais vantajosas que dos escravistas, além de superioridade numérica e de armamentos, fizeram com que os insurretos fossem definitivamente derrotados.

Com a derrota, veio o julgamento e o castigo. Depois de julgados, cinco foram executados segundo Nina Rodrigues e, quatros, segundo J. J. Reis. A justiça não encontrou carrascos que os executassem e foram fuzilados, merecendo uma morte honrosa.

* Dirigente da Unegro e do Sindicato dos Bancários, e secretária de Combate ao Racismo da CTB Bahia