Game over, Bolsonaro

Game over, Bolsonaro

Agricultor Familiar, Secretário de Formação e Organização Sindical da FETAG-BA, membro da direção estadual da CTB-BA e da coordenação Regional Nordeste da CONTAG, graduado em Licenciatura em Educação do Campo (CFP/UFRB)

A nota divulgada nesta quinta-feira, 8, pelo presidente Jair Bolsonaro causou decepção e revolta de bolsonaristas, com tal recuo, demostrando fraqueza. E o termo inglês (game over) pode ser traduzido como "fim do jogo" ou simplesmente "acabou". Há quem defende que Bolsonaro demonstrou fraqueza, sugerindo, inclusive que pode ter assinado sua derrota.

Coincidências à parte, Bolsonaro divulgou a nota um dia após o prsidente do STF, Luiz Fux, afirmar que suas ameaças nas manifestações de 7 de setembro pedindo o fechamento do STF e do Congresso poderiam culminar em um processo de impeachment. Pois, em seus discursos, ele atacou a Corte e seus ministros e disse que poderia não cumprir novas decisões de Moraes, a quem chamou de "canalha".

No comunicado divulgado pelo Planalto, Bolsonaro baixou o tom e afirmou que as declarações foram feitas no "calor do momento" e que "nunca teve intenção de agredir quaisquer dos poderes" e que "não tem direito de esticar a corda a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia" e que suas divergências com o ministro Alexandre de Moraes deveriam ser resolvidas por meio da via judicial, reiterando respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.              

Traidor?

Enquanto isso, bolsonaristas se dividiram entre a revolta, a incredulidade e a decepção com a reação do presidente, acusando-o de traidor, pois, dedicaram às manifestações, promoveram atos, viajaram à Brasilia em apoio ao presidente, concluindo que o presidente se rendeu, se acovardou.

Enfim, com esta atitude de escrever a carta à nação – entendemos como pronunciamento (?) – levanta questionamentos aos seus apoiadores. Perguntam: "Será que o presidente vai renunciar à reeleição? Será que o sistema fez com Bolsonaro o mesmo que fez com Trump?". Ainda, afirmando que "nosso capitão recuou", levando a conclusão: "infelizmente", "o presidente nos abandonou", pois, "ele disse que não ia respeitar o STF e agora tá se desculpando por nota", comentou um apoiador.

Pois bem, usos dessas declarações e indagações para reportar uma frase bem usada pelo presidente Bolsonaro: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” – João, 8:32 como forma de evidenciar o que muitos (alienados) não tinham percebido ao longo da trajetória e vida pública do mito: falta de respeito com o povo (que ele pediu para ir às ruas, inclusive), pois, ainda como deputado pesquisem quantos foram seus gestos desrespeitos.

Diante dos fatos, quatro pontos claros de recuo do presidente em um comparativo de seu discurso no último dia 7 e na nota deste dia 9:

1. Iniciando pelo Supremo Tribunal Federal, em 7/9 Bolsonaro diz: "Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos." Recua e, no dia 9/9 pronuncia: "Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes."

2. Integrante do STF, o Ministro Alexandre de Moraes é insultado, no dia 7/9: "Não vamos mais admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar a nossa democracia." Já no dia 9/9, evidente ponderação: "Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes."

3. Sobre o respeito à decisões de outros poderes, no dia 7/9 pronunciou: "Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou." No dia 9/9, recua: "Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país."

4. Enquanto a Democracia, no dia 7/9 Bolsonaro dizia: "Tinha que esperar um pouco mais de modo que a população aos poucos ou cada vez mais fosse se conscientizando do que é um regime ditatorial. Agora chegou o momento de nós dizermos a essas pessoas que abusam da força do poder para nos subjugar, dizer a esses poucos que agora tudo vai ser diferente". Passadas pouco mais de 24 horas, no dia 9/9, manifesta: "Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição."

 

STF na mira: Alexandre de Moraes é o alvo

  1. É o ministro Alexandre de Moraes quem comanda inquéritos que investigam Bolsonaro. O mais recente foi aberto em 12 de agosto para investigar o presidente pelo vazamento de um documento sigiloso da Polícia Federal; ele ainda mandou as empresas que administram as redes sociais usadas pelo presidente a excluírem as publicações sobre o tema e determinou o afastamento do delegado da PF Victor Campos, que estava à frente das investigações sobre o ataque ao sistema do TSE; Moraes também é o relator do "inquérito das fake news", aberto em 2019 pelo então presidente do STF, Dias Toffoli, para investigar a divulgação de notícias falsas e ameaças a ministros do tribunal; Alexandre de Moraes é relator ainda do inquérito das 'milícias digitais', que investiga indícios da existência de uma organização criminosa montada para atentar contra a democracia e suas instituições. Uma das suspeitas é de que o grupo tenha sido abastecido com verba pública.

2. Prisão e bloqueio de recursos de aliados de Bolsonaro. Às vésperas do 7 de Setembro, Moraes determinou a prisão de dois apoiadores de Bolsonaro que fizeram ameaças a ministros do STF. Além disso, ele mandou bloquear as chaves Pix e as contas bancárias de duas entidades do agronegócio, a Aprosoja (Associação Nacional dos Produtores de Soja); No final de agosto, Moraes determinou busca e apreensão contra o deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ), o cantor Sérgio Reis e outras sete pessoas, além de bloquear uma chave Pix usada pelos investigados para angariar dinheiro para os atos de 7 de Setembro; no mês passado, Alexandre de Moraes mandou prender outro apoiador de Bolsonaro, dessa vez de maior peso político: o ex-deputado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson; antes disso, em fevereiro deste ano, Moraes já tinha mandado prender o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), também aliado de Bolsonaro, depois que ele publicou um vídeo com ameaças e ataques a ministros do Supremo.

3. Moraes vai comandar eleição em 2022. Outro fator que coloca Moraes na mira dos ataques de Bolsonaro é o fato de ele ser o próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e quem conduzirá o processo eleitoral de outubro de 2022. Uma das principais estratégias de Jair Bolsonaro para tentar se manter no poder no ano que vem é minar, progressivamente, a confiança da população no sistema eleitoral.

Teor golpista

Observem que os recuos de Bolsonaro depois de fazer os dois discursos mais inflamados de seu mandato no último dia 7 de setembro, diante de centenas de milhares de apoiadores em Brasília e em São Paulo, tiveram um teor golpista, passíveis de ser enquadradas como crime de responsabilidade, punível com abertura de processo de impeachment. Além do teor das falas, tem outro tom golpista, jamais esquecido: o conselheiro de Bolsonaro foi o guru em golpe, Michel Temer.

Entre outras coisas, Bolsonaro afirmou que não mais cumpriria decisões judiciais do ministro Alexandre de Moraes e ameaçou fechar o STF caso seu presidente, Luiz Fux, não "enquadrasse" Moraes. Também afirmou que apenas Deus poderia retirá-lo da cadeira presidencial e afirmou: "quero dizer aos canalhas que nunca serei preso".

Diante da repercussão negativa das falas tanto no mundo político, que retomou as discussões de impedimento do presidente, como no mercado, que reagiu com alta do dólar e tombo da bolsa de valores, Bolsonaro deu um passo atrás.

Sua manifestação do dia 7 levou à paralisação de caminhoneiros em mais de 15 Estados e provocou desabastecimento de combustíveis em alimentos em partes do país. Isso deve pressionar ainda mais a economia do país, em recuperação frágil da recessão causada pela pandemia de covid-19. O PIB do último trimestre teve resultado negativo e a inflação se aproximou dos dois dígitos no acumulado dos 12 meses.

Pois bem, algumas reflexões ficam, a quem é aliado, sempre ouvindo suas bravatas, o gado está em choque, em polvorosa: medo é virar chacota da esquerda.

O gado não é aliado. É alienado. Tem cabeça que não acredita que isso tenha sido só para pacificar as coisas apenas uma estratégia a mando de alguém. Como assim? Alguém? Quem? O mito não é único e exclusivo? Não foi ele próprio que disse ser imbrochável, numa dessas defecções verbais? Pois bem, usando o mesmo termo: ele brochou?

Bolsonaro tá sem partido. O MBL (Movimento Brasil Livre) tá mobilizando o povo para um ato (contra Bolsonaro???) para o próximo dia 12 de setembro sem caráter partidário. Michel Temer foi golpista, contra a presidente Dilma, enquanto vice-presidente com ela, com apoio e manifestações desse mesmo MBL. E agora, Michel Temer é chamado por Bolsonaro para salvá-lo? Vai golpear quem tá nocauteado? Ou faz parte de algum plano não visto a olho nu?

Enfim, meu povo, foi desabafo, constatações e impressões do que se noticiam. Termino por aqui, usando a expressão do título deste artigo, pois, se fosse rei, ao presidente Bolsonaro seria um xeque-mate. Como não é rei, alinhado aliado (acho que até alienado pelo) com o ex-Presidente norteamericano, Donald Trump o termo inglês é perfeito: game over, Bolsonaro.