Primeiro de maio: 135 anos, histórico e desafios da classe trabalhadora

Primeiro de maio: 135 anos, histórico e desafios da classe trabalhadora

            

O 1º de maio é um dia histórico e, por isso que todos os trabalhadores devem refletir o seu significado e os respectivos resultados das lutas até os dias de hoje. A passagem do feudalismo ao capitalismo ocasionou diversas revoltas, principalmente aos camponeses e trabalhadores têxteis. Mecanismos diversos foram criados para possibilitar o funcionamento das primeiras fábricas, resultando na Revolução Industrial, teve, como um dos instrumentos fundamentais, a lei de cercamento. Ou seja, as terras comunais, de grande parte da população poderia usufruir em seu benefício, passou a ser cercada, retirando a última possibilidade de sobrevivência. O artesão perdeu espaço para a grande produção industrial, que passou a comprar muito mais quantidade de matéria-prima, com menor custo, inventando máquinas mais modernas a partir das inventadas, primeiramente, pelo artesão, empregando trabalhadores com miseráveis salário e condições insalubres, afinal, máquinas muitas vezes decepavam membros dos trabalhadores. As jornadas variavam até 16 horas de trabalho por dia em um cenário, composto por homens, mulheres, idosos e crianças. Nesse contexto, criada a classe operária, subjugada no interior das fábricas.   

A vida era, definitivamente, miserável. Se o operário não desejasse mais trabalhar para determinado patrão e quisesse migrar para um outro, tal situação era considerada quebra de contrato. Se o trabalhador abandonasse a fábrica, seria punido com a prisão. Quer dizer, o patrão era protegido em detrimento ao trabalhador que já era fragilizado por não possuir, os meios de produção. A lógica era totalmente equivocada.

A primeira grande revolta surgiu de forma ainda incipiente, através do movimento denominado Ludismo, nome dado por conta de um dos líderes, Ned Ludd. Os trabalhadores achavam que o inimigo era a máquina, então quebrando muitas delas. Posteriormente, perceberam por meio de um outro movimento – denominado Cartismo (carta ao povo), participação política dos trabalhadores. No decorrer do processo histórico, os trabalhadores se organizaram, e no ano de 1864, temos a Primeira Internacional do Trabalho, (organismo que discutia, de forma internacionalista, as lutas proletárias). Em 1871, temos a Comuna de Paris, (movimento em que trabalhadores tomaram o poder e governaram por um curto período), sendo os seus líderes mortos pelo governo.

No século XVIII os Estados Unidos se tornaram independentes da colônia inglesa. Posteriormente, iniciaram seu processo de capitalismo e sua industrialização, também, constituídas de trabalhadores oriundos da Europa. O sofrimento dos trabalhadores norte-americanos se assemelhava com o sofrimento dos europeus. Os trabalhadores lutavam contra as formas de exploração do trabalho, pela redução da jornada de crianças para dez horas. No ano de 1886 em Baltimore, ocorreu um congresso dos trabalhadores, no qual ficou decidido que haveria uma luta unificada e que abrangesse todo o território dos Estados da União Norte-Americana pela redução da jornada de trabalho para oito horas. Foi em um dia como hoje, também, um sábado, primeiro de maio de 1886, que se lançou a campanha, da qual reivindicava os trabalhadores: “A partir de hoje nenhum operário deve trabalhar mais de oito horas por dia. Oito horas de trabalho, oito horas de repouso, oito horas de educação”.

Muitas fábricas foram paralisadas, pois não havia força de trabalho, os operários tinham abandonado seus postos de trabalhado para aderir à greve, objetivando a redução da jornada de trabalho para oito horas. Em 1886, temos fatos ocorrido em Chicago (EUA), com jornadas entre 14h a 16h de trabalho. Lá ocorreram repressões, atos violentos e assassinatos a mando dos interesses do capital, porque o movimento foi visto como uma ameaça ao enriquecimento dos patrões. Diante dessa violência, seis trabalhadores morreram por disparos, milhares ficaram feridos. Alguns líderes reorganizaram os trabalhadores, reafirmaram o caráter da luta, a importância de voltarem a lutar com uma nova decisão, levar seus familiares para o ato. Em outra manifestação a polícia atacou e, ao mesmo tempo, arremessada uma bomba da qual se desconhece a origem. Deu-se um contexto de morte e hostilidade generalizada. O governo endureceu decretando o estado de sítio. Casas foram invadidas a fim de prender trabalhadores. Sedes de sindicatos foram queimadas e a imprensa, ligada do governo e aos capitalistas disseminaram a manifestação dos trabalhadores a partir de uma lógica negativa, marginal e passiva de punição severa.

Todo um cenário jurídico, rapidamente, foi tramado para responder ao movimento reivindicatório dos trabalhadores com punição. Assim, em julho de 1886, alguns líderes do movimento foram presos para serem julgados. Falsas testemunhas foram criadas, bem como provas para assegurar uma punição mais severa, morte – como exemplo aos demais manifestantes. No mês de outubro, saiu a condenação à morte, Ling, Fischer, Spies, Parsons e Engel. Alguns membros da liderança, e outros, Schwab, Fielden para prisão perpétua. O relato, abaixo, feito por Spies, em julgamento, ajuda-nos a refletir sobre aquele momento histórico:

“Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário – este movimento de qual milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, esperam a redenção – se esta é a sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não podem apaga-lo”. 

Os que não foram enforcados, foram soltos através das pressões e lutas que continuaram por parte dos trabalhadores. O governo teve que reconhecer o falso julgamento. Entre os dias 16 e 23 de setembro de 1891, na cidade de Bruxelas, ocorreu o Congresso da Segunda Internacional, com representantes delegados de quinze nações. Neste encontro, de amplo debate sobre as causas internacionais do trabalho, a decisão foi de que o 1º de maio, fosse o dia oficial de comemoração dos trabalhadores, um dia para trazer à tona pautas e reivindicações dos trabalhadores.

No Brasil as lutas empreendidas no século XX, trouxeram avanços, no qual o governo de Getúlio Vargas teve que intervir nas lutas de classe, passou a criar mecanismos de controle pelo governo para atender as necessidades do plano nacional desenvolvimentista. Novas conquistas, bandeiras históricas dos trabalhadores foram conquistadas. Contudo, no ano de 2016, surge um golpe político com o apoio dos capitalistas para barrar a política que ameaçava a diminuição dos lucros, principalmente dos banqueiros. Com a saída, da presidenta Dilma Rousseff e a entrada de Temer, surgiu um projeto burguês representado por determinados parlamentares: A Reforma Trabalhista. Tal reforma atinge, também, as entidades sindicais, é aprovada as mudanças.

Um novo cenário devastador provocado pela (COVID-19), vírus surgido inicialmente na China, espalhou-se pelo mundo, alcançando e arrasando o Brasil. Estamos vivendo um caos social, com perdas dramáticas nos postos de trabalho. Vivemos, cotidianamente, buscando encontrar melhores formas de lutar por melhores condições de trabalho e sobrevivência, algo que virá com a vacinação da população. No entanto, o negacionismo e a incapacidade do Governo Federal no combate a pandemia e na geração de emprego, tendo em vista planos para os capitalistas, tem sido a origem de nosso tormento.

Temos grandiosos desafios para vencermos quanto trabalhadores, dentre eles, a consciência de classe, solidariedade, a busca pelas informações que nos municiam quanto seres sociais e sabedores de seus direitos e deveres mediante uma sociedade de classes. Jamais poderemos esquecer a importância do 1º de maio. Jamais poderemos deixar de comemora-la, bem como refletir sobre o passado, o presente, e de que forma poderemos construir um futuro melhor para os trabalhadores e trabalhadoras.     

 

NOTAS:

DEL ROIO, José Luiz. 1º de maio: sua origem, seu significado, suas lutas. São Paulo, 2016.

 MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

MATOS, Marcelo Badaró. Trabalhadores e sindicatos no Brasil. 1ª ed. São Paulo, 2009.

ROSSI, Waldemar. Para entender os sindicatos no Brasil: uma visão classista. 1 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2009.