8 de março: precisamos falar sobre a “Divisão Sexual do Trabalho e a Covid-19 no Brasil”, o novo artigo de Flora Lassance

8 de março: precisamos falar sobre a “Divisão Sexual do Trabalho e a Covid-19 no Brasil”, o novo artigo de Flora Lassance

Secretaria de Políticas Sociais da CTB-Bahia

O 8 de março, é uma data muito importante do calendário mundial. É um momento de reflexão sobre a luta e as conquistas das mulheres, principalmente por igualdade e respeito ao longo da história. Mas, você sabe qual é a verdadeira origem dessa data, como surgiu a instituição desse marco, qual é a importância dele?

Origem e História

O Dia Internacional da Mulher é comemorado em vários países no dia 8 de março. Apesar de, no Brasil, muitas pessoas acreditarem que a data está relacionada a um incêndio em uma fábrica de tecidos nos Estados Unidos, a verdadeira história é outra, um pouco diferente, como veremos a seguir.

A primeira manifestação em relação às mulheres ocorreu em Nova York, no dia 26 de fevereiro de 1909. A passeata contou com cerca de 15 mil mulheres que protestaram por melhores condições de trabalho, que na época eram muito precárias e exploradoras.

No Brasil, houve uma crença de que o dia 8 de março seria referente a um incêndio ocorrido na fábrica de tecidos Triangle Shirtwaist, no ano de 1911. Apesar do fato ser verdadeiro e de muitas mulheres terem morrido nesse episódio, dois fatores são determinantes para que ele não seja o principal motivador da escolha da data.

O primeiro é que o incêndio ocorreu no dia 25 de março e não 8. O segundo é que movimentos anteriores já sinalizavam a movimentação das mulheres em relação à luta por melhores condições de trabalho e de igualdade de direitos, como mencionado anteriormente.

Outra corrente falava sobre um outro episódio ocorrido em 1857, em Nova York. Operárias de uma fábrica têxtil em greve teriam sido mortas em um incêndio criminoso por seus patrões. Contudo, não existe comprovação de que esse fato seja verídico, muito menos que tenha ocorrido no dia 8 de março.

Atualidades

Os frequentes ataques aos direitos das mulheres evidenciam um estado de constante contestação, sobretudo por parte de segmentos mais conservadores, acerca da função que desempenhamos na sociedade. No mundo do trabalho o cenário não é diferente. A divisão sexual do trabalho é concebida como uma das principais desigualdades de gênero relacionadas com políticas e instituições.

Amplamente debatida, principalmente pelas teóricas feministas, a divisão sexual do trabalho expõe uma distinção entre o trabalho produtivo, designado aos homens, e o trabalho reprodutivo, concebido como responsabilidade das mulheres. Esta distinção se sustenta em argumentos naturalistas, concebendo o trabalho doméstico e de cuidado executado pelas mulheres como uma expressão dos sentimentos da mesma para com seus familiares e em prol da instituição do casamento. Esta base evidencia que a gênese da divisão sexual do trabalho está na relação entre os sexos e nas hierarquias formadas pelos eixos de sexo, raça/etnia e classe.

O cenário de desigualdades sociais promovido pela divisão sexual do trabalho se mostra claro no Brasil. Dentre os(as) afetados(as), as mulheres negras compõem o grupo mais prejudicado na formação de seus rendimentos e, não por coincidência, são as que mais realizam atividades de trabalho doméstico e de cuidado, seja para suas famílias ou como trabalho remunerado informal.

A pandemia da Covid-19 realçou as desigualdades sociais existentes no contexto da divisão sexual do trabalho no Brasil. O desemprego bateu recorde em setembro de 2020, afetando principalmente as mulheres. Tivemos que lidar com a perda dos empregos, tentativas de conciliação do trabalho remunerado com os cuidados com a casa e filhos(as), a sobrecarga do trabalho doméstico, entre outras consequências da pandemia. Mais uma vez as mulheres negras foram as mais impactadas, o que pode ser parcialmente explicado pela posição que ocupam na sociedade brasileira. Trabalhadoras dos setores mais afetados, dentre esses o trabalho doméstico informal, as mulheres negras foram as que mais tiveram seus contratos, quando era o caso, suspensos, o que provocou uma alta na taxa de desocupação desse grupo social.

A abordagem da divisão sexual do trabalho no contexto da Covid-19 no Brasil demonstra como as hierarquias de sexo, raça/etnia e classe se relacionam nas condições de vida de diferentes grupos sociais. Não tratar desses pontos equivale a desconsiderar as discriminações oriundas da divisão sexual do trabalho e não reconhecer a importância das mulheres no desenvolvimento socioeconômico de um país.

Assim, lutemos pelo auxílio emergencial de R$600,00 (seiscentos reais), por vacina já para todas e todas, gritemos pelo fora bolsonaro, mas não podemos esquecer que é necessário e urgente a adoção de políticas fiscais de resposta à pandemia que incorporem perspectivas de gênero, raça/etnia e classe a fim de tratar das discriminações de mulheres de uma maneira ampla e mais próxima da realidade, principalmente vivenciada no Brasil.

8 de março é um dia de luta!