De Olho no Mundo, por Ana Prestes

De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Ana Prestes é cientista social. Mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG. Dirigente nacional do PCdoB. E neta de Luiz Carlos Prestes.

A vacina da Pfizer vai ganhando espaço no mundo. Ontem (21) foi a vez da União Europeia aprovar seu uso para os 27 estados membros, após a EMA (Agência Europeia de Medicamentos) dar sinal verde. A campanha de vacinação deve começar no dia 27 de dezembro. Ao todo morreram quase 500 mil pessoas de Covid 19 em toda a Europa no ano de 2020. A campanha de vacinação, que pretende imunizar 450 milhões de pessoas, será em uma escala sem precedentes, com a convocação de estudantes de medicina, médicos aposentados, farmacêuticos e até soldados para participarem do esforço conjunto. A vacinação vai começar pelo grupo prioritário: profissionais de saúde e idosos que se encontram em asilos e casas de repouso.

Um debate quente esta semana sobre o coronavírus, exatamente um ano após o surgimento do primeiro surto da doença causada pelo vírus, tem sido com relação a uma de suas novas variantes. Uma cepa nova, como dizem os infectologistas, e que teria sido identificada na Europa, em especial no Reino Unido. Segundo Michael Ryan, diretor de emergências da OMS, a taxa de reprodução dessa nova variante não é a maior já observada na pandemia e, muito importante, não é mais letal, mas elogiou os bloqueios e suspensões de voos entre países com o Reino Unido para combater sua propagação. Aliás, o nome da variante, B117, tem gerado muitos comentários no Brasil, por fazer alusão ao número do partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente. A grande questão que todos estão se fazendo é se as atuais vacinas que já começaram a ser aplicadas, no Reino Unido inclusive, serão capazes de deter essa variante do coronavírus.

Ainda sobre vírus e vacinas, circulou ontem (21) nas redes um vídeo do presidente eleito dos EUA, Joe Biden, de 78 anos, recebeu a primeira dose da vacina (Pfizer). Segundo ele, se deixou ser filmado para que “pessoas se sintam seguras para tomar a vacina, na vez delas”. Enquanto isso, o Congresso americano aprovava um pacote de 900 bilhões de dólares para combater os efeitos da Covid-19 sobre a economia. É um pacote menor que o primeiro, aprovado em março, de 2,2 trilhões de dólares, e visa socorrer os mais atingidos por uma pandemia que já deixou mais de 300 mil mortos no país em 2020. A maior parte dos recursos vai para as pequenas empresas, em seguida vem auxílios pagos diretamente aos cidadãos, em especial os desempregados, apoio financeiro para escolas, um fundo para apoiar a distribuição de vacinas e outras medidas como subsídios a aluguéis.

Ministros de Relações Exteriores da China, Rússia, Irã, Alemanha, França e Reino Unido fizeram ontem (21) uma reunião virtual de duas horas, presidida pelo Josep Borrell, chefe da política externa da União Europeia. O tema do encontro foi como preservar o acordo nuclear conquistado em 2015 e como atrair Biden para que os EUA voltem ao acordo, após o rompimento promovido por Trump (maio/2018). Na reunião, eles reconheceram a IAEA – Agência Internacional de Energia Atômica da ONU como a única organização independente e imparcial que pode verificar tecnicamente a implementação do acordo. O presidente eleito Joe Biden chegou a dizer nas últimas semanas que pretende fazer seu país retornar ao acordo e aliviar as sanções impostas ao Irã pela gestão Trump, mas ressaltou que seriam necessárias mais negociações sobre o programa de mísseis do Irã e sua influência regional. Ocorre que o governo do Irã rejeita peremptoriamente qualquer renegociação e diz que o acordo nuclear deve ser implementado tal e qual foi negociado e assinado por todos em 2015. A pressão dos países inimigos do Irã, como Israel e Arábia Saudita, já começou em cima de Biden. Chegaram a propor terem assentos em uma futura mesa de negociações com o Irã. Bom lembrar que com os acordos estabelecidos entre Israel e países árabes, como os Emirados Árabes, fizeram com que estes demandem ser ouvidos de forma diferente desta vez, pois o mundo em 2020 já não seria o mesmo de 2015.

E a Argentina assumiu a presidência pró-tempore do Mercosul, após a 57ª Reunião de Cúpula liderada pelo presidente uruguaio Luis Lacalle Pou. Um dos desafios de sua gestão, segundo anunciado, será a efetivação da inclusão da Bolívia no bloco. Segundo o chanceler argentino, Felipe Solá, “devemos fortalecer o bloco com a incorporação plena da Bolívia”. É um desejo especial da Argentina que, suponho, será compartilhado pelos demais sócios”. O novo chanceler boliviano, Rogelio Mayta, também se pronunciou: “faço votos pela rápida convergência do processo de adesão da Bolívia como Estado parte do Mercosul. Essa incorporação plena vai afiançar o nosso espaço de integração”. A incorporação da Bolívia no bloco era dada como certa até 2015, quando Macri venceu as eleições na Argentina (2015), Dilma sofreu um golpe no Brasil (2016) e Evo sofreu um golpe na Bolívia (2019). Com a mudança do cenário político, a incorporação estagnou. O Brasil é o único que ainda não votou no Congresso se está de acordo com a incorporação. Dificilmente o governo Bolsonaro vai atuar no sentido de acelerar a aprovação. Com a maioria neoliberal no Mercosul composta por Brasil, Uruguai e Paraguai, não parece que será muito fácil dar esse passo importante para a integração sul americana.

O autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, está mesmo desidratando a olhos vistos. Até mesmo a União Europeia que torce o nariz para o reconhecimento das eleições legislativas venezuelanas de 6 de dezembro, parece estar mudando sua conduta com relação a Guaidó. Segundo reportagem do El País, após a posse da nova Assembleia Nacional venezuelana em 5 de janeiro, o bloco europeu se inclina a não voltar a reconhecer Juan Guaidó como presidente interino, mas como “último líder da Assembleia Nacional legitimamente eleito”. Há também uma expectativa sobre como a administração Biden vai lidar oficialmente com as legítimas autoridades venezuelanas. Guaidó, que já chegou a ser reconhecido por autoridades de 60 países, hoje pena para se manter no status de principal opositor do governo Maduro. A questão essencial é também o dinheiro, recursos financeiros que o estado venezuelano tem depositado em países como o Reino Unido, EUA, Suíça e Portugal e que estão vetados a Maduro pelo não reconhecimento de sua gestão e vinham sendo usufruídos por Guaidó e sua turma. A última tentativa de Guaidó de se manter nessa posição de presidente interino reconhecido foi o de fazer uma consulta popular para desacreditar as eleições de 6 de dezembro, mas além da ausência de legitimidade, a iniciativa teve pouca repercussão externa. Agora ele está tentando convocar mobilizações populares contrárias à posse da nova Assembleia em 5 de janeiro. A ver.

Foi anunciado na semana passada o relatório anual da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (que reúne 37 países) – sobre o Brasil. Mais uma vez, nesta edição, a OCDE enaltece o “feito extraordinário” do Brasil quando, na primeira década do milênio, sob os governos de Lula, conseguiu tirar 33 milhões de pessoas da pobreza. Fenômeno que cessou e sofreu reveses importantes a partir de 2015 com o início da recessão econômica (e instabilidade política como sabemos). O relatório também traz projeções pessimistas para a próxima década. Estima uma recessão de 5% do PIB para 2020 e recuperação lenta nos próximos anos, chegando a comparar o próximo período com a “década perdida dos anos 80”. Estima uma taxa de desemprego de 16% para 2021 e 15% em 2022. Com destaque para a vulnerabilidade das mulheres e pessoas com menos anos de instrução formal.

A China completou sua última expedição à Lua. A Chang e-5 decolou de sua base de lançamento em Hainão, extremo sul da China, no último dia 24 de novembro e retornou à Terra em 17 de dezembro. Dois dos quatro módulos da Chang e-5 recolheram cerca de dois quilos de amostras da crosta lunar. É a primeira vez que material rochoso lunar é recolhido desde 1976, quando uma missão da União Soviética esteve na Lua. Esse foi o terceiro pouso bem sucedido da China na Lua e o único com uma decolagem a partir da Lua. O presidente Xi Jinping considera a missão uma grande conquista e um passo importante para a indústria espacial chinesa. O próximo desafio parece ser uma missão a Marte e a construção de uma estação espacial por lá. (Com infos da Xinhua)