Assédio moral e sofrimento no trabalho
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Por Wilza Meireles*
Os conceitos de assédio moral podem ser diferenciados por palavras, mas todos concordam ser uma conduta abusiva manifestada por comportamentos, palavras, atos, gestos e escritos, com exposição prolongada e repetitiva, propagada em relações hierárquicas e sem ética e que traz danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física e/ou psíquica da pessoa, pondo em risco seu emprego e degradando o ambiente de trabalho.
Afeta negativamente a comunicação, as relações interpessoais, a identidade, a saúde profissional, social, emocional e moral do trabalhador. De forma geral ocorre entre aquele que detêm e aquele que é submetido ao poder, mas também ocorre entre indivíduos que detêm o mesmo grau de poder e participação na hierarquia. No Brasil, alguns governos federais têm trabalhado no sentido de criar uma legislação própria a respeito do assédio moral, embora não há um estudo profundo sobre os efeitos nocivos no trabalhador.
Alguns indícios apontam para a ocorrência de assédio moral, tais como: isolamento, proibição de conversas paralelas, exclusão de atividades sociais comum à todos na empresa, comentários maliciosos e desrespeitosos, referências desrespeitosas quanto ao aspecto físico, caráter, costumes, crenças, condutas, família e outros, responsabilização de erros que outros cometeram, transmissão e ocultação de informações erradas visando prejuízo, rumores sobre a vida privada, delegação de tarefas impossíveis ou degradantes e chegando ao cúmulo, em alguns casos, limitação do número de vezes que o trabalhador vai ao banheiro.
A prática do assédio moral visa a desestabilização profissional da vítima, enquanto o algoz demonstra seu poder, fortalece sua própria auto estima e afasta de si a probabilidade de competição honesta.
Sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, cansaço crônico, insônia, irritabilidade, ansiedade, obsessões, fobias, apatias, crises de choro, déficit cognitivo, sentimento de indefesa e culpa, vergonha, injustiça e desconfiança, perplexidade, confusão e desorientação, crises de auto estima, aumento de peso ou emagrecimento exagerado, aumento da pressão arterial, propensão ao abuso de fumo, álcool ou outras drogas, pensamentos negativos, desesperança e pessimismo.
Os prejuízos não atingem apenas a vítima, mas também a organização, sua imagem, produção, absenteísmo, qualidade e sanções, e atinge paralelamente a sociedade, tendo em vista consequências como a precarização da qualidade de vida, as crises em família e comunitárias, os custos por alguma enfermidade, os riscos de suicídio, aborto e divórcios e acima de tudo o desemprego.
As pessoas se comportam dessa maneira não por serem perversos em suas estruturas, mas porque desenvolvem esses comportamentos inconscientemente devido às gestões do trabalho e aos modos de produção. Para a Psicologia Organizacional o mais relevante é o sofrimento como conseqüência, principalmente quando a ameaça é invisível e torna mais difícil o enfrentamento, devido, muitas vezes, o comportamento ser banalizado, ignorado e oculto, gerando gradativamente o adoecimento ao constatar-se a completa falta de estratégias para enfrentá-lo.
*Wilza Meireles é psicóloga, responsável técnica no Instituto de Promoção da Cidadania e do Bem-Estar Social e Emocional.