Agricultura ou Agronegócio ?

Agricultura  ou  Agronegócio ?

Secretário de Formação e Organização Sindical da FETAG-BA;

 

Até cerca de 11.500 anos atrás, as pessoas passavam a maior parte de suas vidas em tarefas que envolviam a caça e coleta de frutos e plantas para a alimentação. A partir de então, os seres humanos, gradualmente, aprenderam a cultivar cereais e tubérculos e, assim, puderam fixar-se em um único lugar e estabelecer uma vida baseada na agricultura.

A partir de então, começa uma universalização da agricultura, quando, também, se inicia a pecuária, com a gradual domesticação e criação de animais, que até então eram selvagens. As primeiras civilizações baseadas na agricultura intensiva surgiram nas proximidades dos rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia (atual Iraque e Irã), e ao longo do rio Nilo, no Egito.

Com o passar dos tempos, a agricultura permitiu que a humanidade pudesse produzir excedentes de alimentos, o que possibilitou a troca de mercadorias por outros gêneros que não eram por eles produzidos. Os excedentes também funcionavam como fonte de segurança alimentar em casos em que o cultivo fosse prejudicado por fatores naturais, como seca prolongada, geada ou excesso de chuvas. 

Já estamos no século 21. Com o avanço da produção, após as revoluções – industriais e tecnológicas – e, falando de agricultura, denominamos de revolução verde veio a modernização da agricultura, que durante os milhares de anos, o desenvolvimento foi muito lento, sob a ótica capitalista. O bom desempenho da produção dependia essencialmente de fatores naturais, como a qualidade do solo, umidade, condições climáticas, relevo, proximidade de cursos d'água etc. Esses fatores determinavam a qualidade e a quantidade de produtos agrícolas cultivados.

De forma técnica, acadêmica ou científica, define-se agricultura com o cultivo da terra, do campo. Ou seja, atividade rural onde se planta e cultiva, considerando as pessoas, os sujeitos, sob a égide da solidariedade.

Já o termo agronegócio, define uma atividade que pauta no lucro: exerce atividade sob a ótica capitalista. As relações de trabalhos superam as formalidades, chegando a ser impessoal: se leva em consideração as máquinas, a precisão, venenos (agrotóxicos) e outros insumos práticos, sem envolvimento humano, de preferência.

Se por um lado termo agro e agri são unânimesenquanto definem o conceito de campo (meio rural), por outro lado, os temos cultura e negócio destoam dos princípios, pois, são divergentes. Em suma, o dicionário nos mostra que negócio é toda e qualquer atividade econômica com o objetivo de gerar lucro. Enquanto cultura, Edward B. Taylor define como "todo aquele complexo que inclui oconhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Atribui valores, sentimento.

Na data de hoje – 25 de maio – comemorar-se o Dia do Trabalhador Rural, considerando a diversidade e a pluralidade no campo, além de definição do conceito, o meio rural vive um dilema. Ou melhor, os desafios postos ao trabalhador rural lhes põe na dicotomia:

a) Ser trabalhador, por ser agricultor familiar, ter sua roça, seu sítio, sua terra, seja comprada de forma legal ou beneficiado pela reforma-agrária ou alguma herança. Ou seja, é trabalhador por conta própria: sem apoio, sem incentivo e falta de oportunidades;

b) Ser trabalhador, enquanto assalariado rural, que vende sua mão de obra, por alguma remuneração, sem garantias trabalhistas e, muito sem registro legal. Logo, dada a circunstância da ofensiva patronal e até judicial, não tem perspectivas por conta da legislação flexível, que o deixa desamparado.

 

A pandemia provocada pelo novo coronavírus, compromete as vidas das pessoas, neste ano e até parte do ano vindouro, pois, cancelamento de aulas, redução de trabalho, automaticamente com redução de salários, aumento do índice de infecção, medidas restritivas de comercio, paralisia dos programas institucionais de comercialização, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), aliado as suspensões das feiras livres e, de forma geral, há necessidade de evitar o contato social, demarca a vida da humanidade.

Nesse contexto, o Dia do Trabalhador(a) Rural tem um novo significado, pois, a sociedade vê a importância do trabalhador e da trabalhadora rural agricultor familiar mais do que nunca, pois, pois, segundo o IBGE (Censo Agro/2017) este segmento éresponsável pela produção de mais de 70% dos alimentos que chegam diariamente às mesas dos brasileiros e brasileiras.

Entendemos que nesse momento de pandemia, a produção de alimentos é um dos serviços essenciais para o País. A organização sindical do campo (sistema CONTAG) e, com o apoio da CTB, também, por movimentações e reuniões e webconferências, desde março, quando foi decretada a pandemia por Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a CONTAG vem pautando os governos – estadual e federal e o Congresso Nacional, no sentido de aprovar medidas que visem diminuir os prejuízos para os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

O trabalhador e a trabalhadora rural, tem ficada a margem dos decretos e medidas protetivas no combate ao COVID-19. Para os assalariados, não disciplinou atividades para o transporte destes para as unidades produtivas; não disciplinou algo sobre o distanciamento recomendado; e os EPIs apropriados, como tá sendo? E os patrões que praticaram o isolamento, primeiramente foi por conta da redução de salários – evitar pagar os trabalhadores. 

Em tempo de pandemia, vimos com preocupação a limitação da estrutura hospitalar no meio rural para atender as populações do campo, uma que os trabalhadores e trabalhadoras rurais precisam percorrer centenas ou milhares de quilômetros para conseguir um leito em UTI, pois, como sabemos, o novo coronavírus já chegou no interior do Brasil. Tudo isso sem falar que os hospitais dos grandes centros já estão entrando em colapso.

Fica aqui nossa cobrança dos gestores públicos para uma atenção à situação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, que exercem papel fundamental no País. A produção de alimentos é importante e deve ser Estratégia de Nação, pois, é estratégica para a nação.

Atenção à saúde dos povos do campo, com certeza, é uma das principais necessidades para essas pessoas e, a melhor forma de homenagear o trabalhador e a trabalhadora rural pelo seu dia, é fortalecer, ainda mais, a luta por mais direitos, por dignidade e por mais condições para viver bem e trabalhar no campo com renda, produzindo alimentos saudáveis para alimentar todo o Brasil.

?Em tempo de pandemia, dizemos: “trabalhadores rurais, protejam-se!”

Viva os trabalhadores e as trabalhadoras rurais do campo, da floresta e das águas!