Intolerável perseguição a Sérgio Gabrielli
Engenheiro e foi Diretor Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
O estranho ato foi assinado por um ministro substituto da Contralodoria Geral da República, CGU, Valmir Gomes da Silva, precisamente no dia do Natal, talvez para ser mais afrontoso com o espírito natalino de justiça. A grosseira decisão foi tomada em função de supostas “infrações disciplinares à frente do cargo” de presidente da Petrobras, que Gabrielli teria feito. A resposta veio imediata: “Minha aposentadoria é resultado de 36 anos e dois meses de vínculo com a UFBa e portanto não tem nada a ver com a Petrobras”, disse Gabrielli.
O que se está pretendendo fazer com Gabrielli é de injustiça clamorosa. Gabrielli é um brasileiro de grandes méritos pessoais, que eu conheço desde estudante. Nunca foi rico, nem é rico, nunca foi de fazer falcatrua. No ambiente em que a Lava Jato tudo fez, legal e ilegalmente, para pegar irregularidades praticadas por alguém da esquerda, a vida de Sérgio Gabrielli foi devassada, posta de cabeça para baixo, e nenhuma condenação a Lava Jato pode lhe fazer.
Sua carreira acadêmica de mais de três décadas é esfuziante. PhD em Economia pela Universidade de Boston, professor visitante na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFBA, coordenador do Mestrado em Economia e diretor da sua Faculdade de Ciências Econômicas.
Além de aplicado em ciências, Gabrielli tem, desde a época de estudante, outra mania, a de ser democrata, avesso às tiranias, participante dos movimentos contestadores de ditaduras.
Sua passagem pela Petrobras foi de êxitos contínuos, orgulha a todos os patriotas que torcem e vibram pela grandeza dessa estatal.
Na verdade, por traz dessa insanidade, que é perseguição a quem tanto se dedicou à Petrobras, há um problema político. É que Gabrielli representa uma visão diferente da atual visão que predomina sobre o que fazer com a Petrobras.
Como presidente da empresa, Gabrielli levantou e levanta com força a bandeira de uma estatal forte, que possa ser fator de desenvolvimento do Brasil, de alavancagem, não só do setor do petróleo, mas da indústria nacional.
Definitivamente ele é contra a privatização da Petrobras, e, sem dúvida, essa é a razão principal dele ser perseguido. Por acaso alguém já viu, nesse tempo em que se bate continência para a bandeira americana, como faz Bolsonaro; em que se diz que tudo está à venda, até o Palácio do Planalto, como disse o Paulo Guedes; por acaso alguém já viu, nesse tempo enlouquecido, alguém que queira privatizar a Petrobras ser perseguido? Não. Quem quer privatizar a Petrobras, vai para a Presidência da empresa, como o seu atual presidente.
Com Gabrielli na presidência, a Petrobras crescia e muito. Batia recordes. Descobriu o pré-sal.
Depois dessa descoberta, o governo do então presidente Lula resolveu ceder, de forma onerosa, à Petrobras, a exploração e produção de 5 bilhões de barris em Franco, cuja existência fora certificada pela Gaffney, Cline & Associates (GCA), contratada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que eu dirigia. Após isto, a Petrobras, em setembro de 2010, sob a direção de Gabrielli, fez uma capitalização para levantar fundos, e arrecadou US$ 70 bilhões, a maior arrecadação de dinheiro em operação desse tipo já realizada em todo o planeta Terra. Para se ter uma ideia do que isto significa, basta dizer que a segunda maior capitalização no gênero foi a da japonesa NTT, que movimentou US$ 36,8 bilhões em 1987.
Pouco antes de Sérgio Gabrielli assumir a presidência da Petrobras, em 2003, a empresa investia US$ 5 bilhões de dólares por ano. Em 2011, investiu US$ 43 bilhões.
Por isso digo que, na perseguição a Gabrielli há um componente político: os atuais detentores do poder no Brasil, não querem que sobreviva o exemplo de Gabrielli.
A cassação da aposentadoria de José Sérgio Gabrielli é uma afronta contra a qual temos que nos insurgir.