Revolta dos Alfaiates: os heróis de ontem para a luta de hoje

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De todos os movimentos de revolta que eclodiram no Brasil colonial, a Revolta dos Alfaiates, em 12 de agosto de 1798, foi a mais abrangente em termos de participação das camadas populares e dos ideais de mudanças sociais propostos. Assim como os inconfidentes mineiros, os conjurados baianos defendiam a emancipação política do Brasil através do rompimento do pacto colonial. Mas foram além, ao propor a abolição da escravidão. Frases foram escritas em locais públicos de grande circulação, como, por exemplo: "Animai-vos povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da vossa liberdade, o tempo em que seremos todos irmãos, o tempo em que seremos todos iguais".

A Europa atravessava um momento de profundas transformações sociais e políticas geradas pela Revolução Francesa. O Haiti, colônia francesa situada nas Antilhas, foi palco de convulsões sociais devido às frequentes e violentas rebeliões e levantes de escravos negros. Em seu conjunto, as notícias desses acontecimentos tiveram ampla repercussão no Brasil e serviram para dar sustentação aos ideais de liberdade, igualdade e soberania popular propugnados pelos conjurados baianos.
A participação social foi intensa. Aderiram ao movimento, homens brancos, mulatos, negros livres e escravos e até membros da elite soteropolitana, tal como o médico Cipriano Barata, que foi um ativo propagandista do movimento, atuando principalmente entre os integrantes da sociedade secreta Cavaleiros da Luz.

Contudo, foi a presença de um contingente expressivo de alfaiates que fez com que a Conjuração baiana ficasse conhecida também como a "Revolta dos Alfaiates". Entre as principais lideranças do movimento destacam-se: O mestre de alfaiate João de Deus Nascimento, o aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira e os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas Amorim Torres.

Seiscentas e nove pessoas foram relacionadas à conjuração, das quais 49 foram enviadas a prisão, em maioria jovens alfaiates e soldados. Trinta e quatro sofreram severas punições, como exílio ou a morte, como por exemplo, os destacados líderes que são homenageados com bustos na Praça da Piedade de Salvador, onde foram enforcados no dia 8 de novembro de 1799.

Ainda hoje, os jovens negros são vitimados pela violência do Estado brasileiro. Conforme o Mapa da Violência no Brasil, são eles quem mais morrem vítimas do extermínio dos grupos paramilitares e da “guerra” às drogas, nas periferias dos grandes centros urbanos do país. Dos homicídios registrados em 2015, 92% das vítimas são do gênero masculino, 53% são jovens (15 a 29 anos) e, desses, 71% são negros.

Temos que nos rebelar e lutar contra as reformas desse governo ilegítimo, que quer retirar os poucos direitos conquistados. Temos que propor uma nova política antidrogas, que de fato ataque a causa do problema, como a proteção às nossas fronteiras, visto que as drogas e os armamentos não são produzidos nos centros urbanos, sendo então as comunidades carentes também vítimas da ausência do Estado.

Viva os heróis da Revolta dos alfaiates e em memória deles continuaremos na luta por igualdade de oportunidades!

 

Jerônimo da Silva Júnior é secretário de Combate ao Racismo da CTB-BA, diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e graduando de História.