Os desafios do sindicalismo na conjuntura atual

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Por Antônio Augusto de Queiroz*

Os movimentos sociais e sindicais têm três desafios pela frente, em curto e médio prazos: 1) promover formação política, 2) melhorar sua comunicação institucional e interpessoal, e 3) ter sempre alternativa ao que critica ou se opõe.

O primeiro desafio é o de qualificar os militantes, ativistas e dirigentes para o enfrentamento da agenda do Consenso de Washington, que esteve suspensa no Brasil durante os 12 anos de governos do PT.

O passo inicial nessa direção é conscientizar os cidadãos-trabalhadores, mediante cursos, seminários e oficinas, sobre o papel de cada um dos três setores do sistema social: o Estado, como primeiro setor; o mercado, como segundo setor, e a sociedade, como terceiro setor.

As cartilhas editadas pelo DIAP sobre “Noções de Cidadania no Brasil”, “Análise de Conjuntura”, “Relações Institucionais e governamentais” e “Políticas Públicas e Ciclo Orçamentário” dão uma boa base para entender esses processos.

O segundo desafio diz respeito à forma de comunicação. As forças neoliberais desenvolveram uma tecnologia que força o disparo do “gatilho mental” dos cidadãos contra determinadas ideias, especialmente se elas conflitarem com os interesses do mercado e dos rentistas.

A comunicação política no Brasil passou para a fase da pós-verdade, em que o fato e a verdade ficam em segundo plano e são explorados os comportamentos e reações, com o objetivo de dizer ao cidadão “sobre o que pensar” e não “sobre como pensar”.

A tática é simples. Criminaliza-se os defensores dessas ideias, associando-os a desvios de conduta (corrupção, ilegalidade, irregularidade, etc) ou a agressão a valores (familiares, religiosos, etc) e as pessoas automaticamente deixam de analisar as ideias e passam a condenar seus autores. Isso tem sido feito com partidos e também será feito com os movimentos sindical e estudantil ou qualquer outro que seja visto como de esquerda.

Nesse particular, os movimentos sociais, em geral, e o sindical, em particular, precisam se qualificar e — sem abrir mão um milímetro sequer em relação as suas convicções e visão política e ideológica — focar o debate no conteúdo do que propõe ou rechaça, de tal modo que as pessoas possam perceber o que de fato está acontecendo.

Evitar o esquema “petralhas” versus “coxinhas” é a melhor alternativa, porque desinterdita o diálogo. Por exemplo: muitos dos que foram a favor do impeachment de Dilma são contrários às reformas em bases neoliberais de Michel Temer. Entretanto, se insistirmos na tese de que todos são “golpistas”, isso interdita o debate e o diálogo.

Se as lideranças dos movimentos sociais não tiverem tolerância, capacidade e disposição para persuadir, pelo conhecimento, pelos argumentos e fatos, mostrando os malefícios de parte dessas reformas, vai persistir a polarização e muitos que são aliados potenciais, e poderiam cooperar nessa batalha de resistência à supressão de direitos, permanecerão impermeáveis ao diálogo.

O terceiro desafio consistirá em montar equipes e assessorias para formular e propor, com a agilidade que os novos tempos exigem, alternativas às propostas patronais e governamentais.

O movimento sindical, no período pós-64, passou por duas fases que foram muito eficazes: a de ser contra, em plena ditadura militar, e a de reivindicar, após a derrota da ditadura. E ingressou na terceira fase em que não basta ser contra nem reivindicar: é preciso formular, ter alternativas.

Esta terceira fase, que coincide com a chegada ao Brasil da agenda neoliberal, não estava suficientemente clara para o movimento sindical por ocasião dos governos Collor e FHC, quando houve alguns importantes retrocessos, exatamente porque o movimento insistiu nas táticas anteriores: apenas ser contra e reivindicar.

A investida em bases neoliberais — que esteve suspensa no Brasil, pelo menos por parte do Poder Executivo, nos 12 anos do governo do PT — agora volta com força total e sob a liderança de um governo cuja sobrevivência depende de sua implementação.

O desafio, portanto, é redobrado. Ou o movimento social e sindical forma gente, se comunica melhor e combina a resistência com alternativas, ou ser apenas contra e reivindicar não dará conta de impedir os retrocessos. Mãos à obra.

 

 *Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap