Pandemia: isolamento acelera recuperação econômica, mostra estudo

Pandemia: isolamento acelera recuperação econômica, mostra estudo
Profissionais de saúde da UPA Noroeste, em Goiânia, fazem parte da campanha pedindo isolamento para evitar coronavírus em Goiás — Foto: Divulgação/SMS Goiânia

Geral 01/04/2020 Escrito por: Romice Mota

Um estudo divulgado nos Estados Unidos indica que a intervenção rápida e agressiva em uma epidemia, com a adoção de medidas drásticas como o isolamento social, não prejudica a retomada econômica. Pelo contrário, pode favorecer uma recuperação mais rápida.

O estudo Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu analisou cidades dos EUA afetadas pela gripe espanhola em 1918. Segundo os especialistas que o conduziram, as medidas implementadas em 1918 são semelhantes às usadas para conter a disseminação da Covid-19. Por exemplo: fechamento de escolas, auditórios e igrejas, proibição de reuniões e funerais, quarentena para casos suspeitos e redução da jornada de trabalho.

De acordo com o estudo, as cidades com mortalidade mais alta durante a gripe de 1918 registraram um crescimento econômico mais baixo. Por outro lado, cidades que implementaram medidas de combate à pandemia por um tempo mais longo registraram baixa mortalidade e um crescimento econômico maior no período subsequente.

“Cidades que intervieram mais cedo e de forma mais agressiva experimentaram um aumento relativo do emprego e produção industrial e ativos bancários em 1919, após o fim da pandemia”, afirma o estudo. Os efeitos, destacam os especialistas, são quantificáveis.

“Reagir 10 dias antes da chegada da pandemia em uma determinada cidade aumenta o emprego industrial em cerca de 5% no período posterior. Da mesma forma, implementar intervenções não-farmacêuticas [isolamento] por 50 dias adicionais aumenta o emprego industrial em 6,5% depois da pandemia”, ressalta o estudo.

“Descobrimos que cidades que intervieram mais cedo e de forma mais agressiva não têm uma performance pior, na verdade, crescem mais rápido depois do fim da pandemia. Nossos resultados, portanto, indicam que as intervenções não-farmacêuticas não apenas diminuem a mortalidade; elas também mitigam as consequências econômicas adversas de uma pandemia”, conclui o estudo.

A análise foi divulgada na quinta-feira (26) e passou por atualização na segunda (30). É assinada por Sergio Correia e Stephen Luck, do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) e por Emil Verner, da Escola de Administração do Massachussets Institute of Technology (MIT).

Medidas precoces

O economista Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que as conclusões estão em linha com o que outros estudos têm mostrado. “Se você consegue conter de forma mais eficaz a epidemia e sair do isolamento mais cedo, os danos econômicos prolongados são menores. Agora, se a epidemia sobrecarrega muito seu sistema de saúde, provoca muita morte, perdas para famílias e empresas, a perda de longo prazo é enorme. Você perde capital humano, as empresas fecham e você tem que manter as medidas de isolamento por mais tempo, porque a epidemia se alastrou de maneira mais intensa”, afirma.

Como exemplos de países que reagiram rápido à epidemia do novo coronavírus, Mello cita China, Coreia do Sul e Japão, na Ásia, e a Dinamarca, na Europa. “A China talvez seja um bom exemplo, porque o pessoal diz que demorou [a reagir]. Não demorou. Com muito menos casos que outros países ocidentais, ela já tomou medidas bastante extremas. Lá no comecinho da pandemia teve uma certa resistência em admitir, tanto que o prefeito de Wuhan teve que pedir desculpas. Mas, assim que se percebeu, tanto China quanto Coreia e Japão, que já tinham passado pela Sars [Sars-CoV, síndrome respiratória grave], tomaram medidas muito duras”, comenta.

No caso de Coreia do Sul, a testagem em massa foi determinante para o sucesso da estratégia de combate ao vírus. “No caso da Coreia, além das medidas duras, teve essa questão de produzir os testes e fazer testagem em massa. E isso permite um isolamento um pouco mais seletivo. Se você tem teste, você consegue ver, mirar, isolar as pessoas. É uma coisa meio que esperada”, destaca.

Segundo Mello, os países que tomaram medidas precoces são os que hoje começam a discutir o fim do isolamento. “Além da China, no caso da Europa, isso vale para a Dinamarca. Logo que a Itália começou a ficar grave, a Dinamarca já tomou várias medidas de isolamento e agora está começando a cogitar uma saída gradual”, diz.