Um Sindicato que educa
Este autor não possui descrição
Por Jorge Portugal*
Em casa descansando, o telefone toca. Do outro lado da linha, o professor Emmanuel Cerqueira, universalmente conhecido como Buiú, sem perder tempo me fala: "portuga, estou ligando a pedido do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari. Eles vão promovoer um curso preparatório para o Enem, oferecido gratuitamente aos operários e familiares e não abrem mão de que você profira a aula inaugural!".
Um pouco zonzo e julgando não ter entendido bem, pedi a Buiú que repetisse o texto, o que ele fez com todas as palavras e vírgulas. Explico: até aqui, no meu entendimento, um sindicato - qualquer um - tinha determinadas bandeiras de luta, que já justificavam sua razão de existir: a manutenção do emprego, a redução da jornada de trabalho, o aumento salarial, coisas que falavam à sobrevivência imediata do trabalhador.
Mas a coisa mudou, na visão dessa turma. Pessoas como Aurino Pedreira, presidente da CTB-BA (o sindicato é filiado a essa central), Audálio Neto, Júlio Bonfim, presidente do sindicato de Camaçari e outros companheiros entendem que é preciso apostar na preparação dos que sonham com o ensino superior - através do Enem, ou com algum concurso público que possa vir a transformar vidas. E já projetam a Faculdade do Trabalhador.
Claro que ante a explanação, não pensei duas vezes e no dia marcado lá estava eu, de frente a 160 estudantes de idades variadas no auditório-sala, em Camaçari.
Vocês podem imaginar o alcance da história que este sindicato está começando? Imaginem outros fazendo a mesma coisa e, daqui a pouco, as próprias centrais sindicais dando dimensão nacional a tal iniciativa. Estaremos formando uma poderosa rede de ensino preparatório para os trabalhadores e e seus filhos competirem em pé de igualdade com os bens nutridos filhos da classe média alta. E, assim, diminuindo a desigualdade. Metalúrgicos de Camaçari: um sindicato que faz escola!
* Jorge Portugal é educador e poeta.
Fonte: jornal A Tarde.